Em 1974, já depois da revolução dos cravos, fomos gravar a Londres, desta vez com o Fausto na direcção musical. Havia uma grande expectativa e curiosidade em saber o que o Zeca iria cantar, finalmente liberto da PIDE e da censura.
Foi igual ao que sempre tinha sido. Em Portugal vivia-se o Verão quente, os cristãos-novos da canção panfletária nasciam como cogumelos, numa corrida louca para se saber quem era mais revolucionário. O Zeca não embarcou nessa onda: a grande, longa e penosa marcha já ele a tinha ganho antes.
Para essa gravação – e pela terceira vez – o Zeca voltou a convidar o Michel Delaporte, um percussionista francês que o José Mário Branco lhe apresentara em "Cantigas do Maio". O Michel tornara-se um músico residente na sua discografia, que muito valorizou. Para além do Fausto, foram também a Londres o Carlos Alberto Moniz, o Adriano, o Vitorino e eu. A canção do disco foi "O que faz falta".
Foi uma gravação tranquila, à inglesa, e na qual os técnicos britânicos tiveram alguma dificuldade em se integrar. Até porque, naqueles tempos conturbados, a imagem mediática que as televisões levavam ao mundo, era a de um Portugal a caminho de uma ditadura comunista. A Europa estava assustada com a ameaça de uma nova Cuba. Recordo-me de um dia, ao chegar ao estúdio, um dos engenheiros de som ingleses me perguntar, preocupado, o que se estava a passar em Lisboa.
Tinha havido um atentado numa agência da AIR FRANCE, um pequeno petardo tinha quebrado o vidro da montra. Debaixo do braço eu tinha um jornal londrino. Mostrei-lhe a primeira página, ocupada com a notícia de 14 atentados do IRA, ocorridos na véspera, na Oxford Street. "So What? Pois é, mas nós já estamos habituados..." A conversa acabou logo ali.
O papel do Adriano e do Vitorino nesta gravação foi mais de animação do que de participação. Cantavam nos coros e andavam a descobrir Londres. Uma tarde irromperam pelo estúdio em grande euforia: tinham descoberto, mesmo ali ao lado, uma loja de um português que vendia chouriço alentejano, pão caseiro e vinho tinto! O Zeca, já farto das comedorias inglesas e pudins de maçã, ordenou às tropas: "Vamos ao ataque!". Os dois engenheiros de som ficaram perplexos: interromper assim uma gravação ia contra os costumes do Reino de Sua Majestade, The Queen! Foram connosco e não se arrependeram. E ficaram a perceber que na vida ou na música, beber um copo ajudava à festa: o que fazia falta era animar a malta.
Foi igual ao que sempre tinha sido. Em Portugal vivia-se o Verão quente, os cristãos-novos da canção panfletária nasciam como cogumelos, numa corrida louca para se saber quem era mais revolucionário. O Zeca não embarcou nessa onda: a grande, longa e penosa marcha já ele a tinha ganho antes.
Para essa gravação – e pela terceira vez – o Zeca voltou a convidar o Michel Delaporte, um percussionista francês que o José Mário Branco lhe apresentara em "Cantigas do Maio". O Michel tornara-se um músico residente na sua discografia, que muito valorizou. Para além do Fausto, foram também a Londres o Carlos Alberto Moniz, o Adriano, o Vitorino e eu. A canção do disco foi "O que faz falta".
Foi uma gravação tranquila, à inglesa, e na qual os técnicos britânicos tiveram alguma dificuldade em se integrar. Até porque, naqueles tempos conturbados, a imagem mediática que as televisões levavam ao mundo, era a de um Portugal a caminho de uma ditadura comunista. A Europa estava assustada com a ameaça de uma nova Cuba. Recordo-me de um dia, ao chegar ao estúdio, um dos engenheiros de som ingleses me perguntar, preocupado, o que se estava a passar em Lisboa.
Tinha havido um atentado numa agência da AIR FRANCE, um pequeno petardo tinha quebrado o vidro da montra. Debaixo do braço eu tinha um jornal londrino. Mostrei-lhe a primeira página, ocupada com a notícia de 14 atentados do IRA, ocorridos na véspera, na Oxford Street. "So What? Pois é, mas nós já estamos habituados..." A conversa acabou logo ali.
O papel do Adriano e do Vitorino nesta gravação foi mais de animação do que de participação. Cantavam nos coros e andavam a descobrir Londres. Uma tarde irromperam pelo estúdio em grande euforia: tinham descoberto, mesmo ali ao lado, uma loja de um português que vendia chouriço alentejano, pão caseiro e vinho tinto! O Zeca, já farto das comedorias inglesas e pudins de maçã, ordenou às tropas: "Vamos ao ataque!". Os dois engenheiros de som ficaram perplexos: interromper assim uma gravação ia contra os costumes do Reino de Sua Majestade, The Queen! Foram connosco e não se arrependeram. E ficaram a perceber que na vida ou na música, beber um copo ajudava à festa: o que fazia falta era animar a malta.
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