segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Poemas - Sintra

Estávamos em 1959. José Afonso tinha saído de Coimbra para ganhar a vida dando aulas em escolas particulares e colégios. Começa por Mangualde, seguindo-se Aljustrel, Lagos, Faro, Alcobaça, e novamente Faro onde é colega de Maria Almira Medina que também leccionava na mesma escola - esse encontro permite que o “Jornal de Sintra” de que era Director António Medina Júnior, em 1959 publique os primeiros poemas de José Afonso.

"Jornal de Sintra" de 11 de Janeiro de 1959"
"Jornal de Sintra" de 8 de Fevereiro de 1959"


Retirado - Rio das Maçãs – 1 de Maio de 2008

Colaboração de Bea Triz

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Zeca na CIRCULTURA, Guimarães, em 5 de junho de 1982

"Iniciativa para angariar fundos para a construção de um Auditório em Guimarães. As fotos são duma iniciativa organizada pelo CICP (Centro Infantil e Cultural Popular) com o objectivo de angariar fundos para a construção dum Auditório em Guimarães.

Para o efeito, o CICP, alugou uma tenda de circo, e promoveu durante dois meses uma actividade cultural diversificada, destacando-se, para além do espectáculo do Zeca, o José Mário Branco, o maestro Vitorino de Almeida, o Carlos do Carmo, o Salada de Frutas, a Sheila, o Cantaril, a Tété, o UHF, a Lena d’ Água e Banda Atlântida, a projecção de filmes e um debate sobre o aborto.

A esta iniciativa chamou-se CIRCULTURA, e realizou-se em 1982, durante Maio e Junho. O espectáculo do Zeca foi às 21,30 horas de sábado, 5 de Junho de 1982.

Como curiosidade, penso que este espectáculo foi o último que o Zeca deu, exceptuando as homenagens posteriores.

Foi colocada pelo Zé Mário Branco, que participou nesta iniciativa na semana anterior, a possibilidade de se fazer neste espectáculo, uma homenagem surpresa ao Zeca, mas por várias razões tal não foi possível.

O Zeca actuou com o acompanhamento do Janita Salomé, Júlio Pereira e Serginho Mestre.

A foto de convívio depois do espectáculo, é no café Oriental em Guimarães, estando ausente o Zeca, que por motivos da sua doença, teve que ir descansar.

As fotos são pertença do CICP e da autoria do Carlos Mesquita."

Fotografias e texto enviados à AJA por Torcato Ribeiro

Colaboração de Anália Gomes
Foto de convívio, depois do espectáculo organizado no âmbito da CIRCULTURA, no café Oriental em Guimarães, estando ausente o Zeca, que por motivos da doença, teve de ir descansar.

Incomparável

De Rui Pato Caro Amigo Rocha Pato:

"Fiquei desvanecido com a referência que me fez no seu belo artigo do Janeiro ( Primeiro de Janeiro, o jornal). Francamente não me julgo tão isento de confrontos com os meus colegas passados e presentes que justifique da sua parte o epíteto de “incomparável”. Mas como apesar da minha aparente modéstia, sou vaidoso, não deixei de exibir o troféu a estes analfabetos cá da terra para mostrar que ainda existem almas sensíveis e temperamentos delicados capazes de glorificar os talentos (…)"

José Afonso (1963)

Cartas relativas a despesas do álbum "Cantigas do Maio",

Descrição:

Documento com as cartas enviadas no seguimento das despesas de gravação e produção do álbum "Cantigas do Maio" (1971) de José Afonso, no qual José Mário Branco foi o responsável pelos arranjos e direcção musical.
Do Arquivo de José Mário Branco

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Um Conforto Moderno

"Um Conforto Moderno" - com som remasterizado

Extraído do vídeo de Mínia Garcia, do recital de José Afonso no Burgo das Nacións, em Santiago de Compostela, a 10 de maio de 1972.

Letra da canção "Um conforto moderno", de José Afonso

Descrição:

Documento com a letra da canção "Um conforto moderno", de José Afonso. Este documento encontrava-se no acervo pessoal de José Mário Branco junto dos documentos utilizados na gravação do álbum "Venham mais cinco" de 1973, no qual José Mário Branco participou como instrumentista e como responsável pelos arranjos e direcção musical.

Esta canção acabaria por não ser editada em nenhum álbum original de José Afonso, porém há registo de José Afonso ter interpretado a canção em casa de Benedicto, em Santiago de Compostela, a 10 de Maio de 1972.

Fim de citação

Do arquivo de José Mário Branco.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Manolo Bello

Manolo Bello lembrou uma visita que fez uma vez à casa de José Afonso na Fuzeta, Algarve. Não tinha sequer luz elétrica. Foi lá, à luz das lamparinas, que Zeca lhe mostrou "Achégate a Mim, Maruxa", uma música que recolheu dos cancioneiros populares da Galiza. Nessa noite, estiveram os dois a treinar o galego.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Orgullo Galego

1.Sabías que o "Grândola, vila morena" foi interpretada por primeira vez en Galiza? : " Na capital da Galiza, por trás do auditório que leva o nome do país, está o Parque José Afonso. Nom é por acaso. Diz a memória coletiva que foi em Compostela, naquele concerto multitudinário de 10 de maio de 1972 no Burgo das Naçons, que foi interpretada pola primeira vez a depois famosíssima Grândola, vila morena. A estreia, com a guarda civil espanhola às portas do auditório e a censura a querer controlá-lo tudo desde dentro, bem poderia ter sido em Lugo o dia antes, ou em Ourense o anterior, pois foi por aquela cidade que começou a primeira gira do Zeca no país"

2.Compromiso do Zeca Afonso coa nosa terra: "Para o José Afonso, significou provavelmente o estabelecimento de um dos vértices do que Paulo Esperança iria denominar o «triângulo mágico do Zeca»: África-Portugal-Galiza. E nom só. Também o reconhecimento mútuo, que o próprio José Afonso explicitou em duas declaraçons: naquela de «talvez ninguém me entendesse como na Galiza», e naquela outra de «Há umha grande confusom em Portugal sobre a Galiza. Estou farto de explicar por todo o lado que a Galiza nom é Espanha»."

3.A maior homenaxe ao Zeca Afonso foi na Galiza: "A gira de 1972, que tivo umha importância certa, ainda se iria multiplicar a partir daí. Em 1977, o próprio Xico de Carinho iria trazer de novo o Zeca para participar no Festival dos Povos Ibéricos da Corunha, aonde havia voltar em 1984, com extensom em Cedeira. Em 1981, José Afonso cantaria no Auditório de Castrelos de Vigo, onde só quatro anos mais tarde, Benedito e outros músicos galegos iriam organizar talvez a maior homenagem do mundo à figura do seu amigo: em 31 de agosto de 1985, quase vinte mil pessoas ocuparam de novo aquele auditório durante mais de doze horas para acompanhar decenas de músicos, poetas, escritores, etc. num tributo a um Zeca já gravemente enfermo."

https://www.facebook.com/orgullosergalego

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Pagamento

De Rui Pato

José Afonso, a dificuldade que sempre teve em lidar com dinheiro, os escrúpulos em ter um miúdo, filho de um grande amigo, a quem teria de pagar pelos acompanhamentos nos discos (retirando esse pagamento do seu próprio cachê)... e os 3500$00 que, para mim eram uma fortuna!

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Zeca Metafísico

Excerto da entrevista de Francisco Fanhais - Fazemos da saudade e da memória do Zeca Afonso uma arma.

«Há uma outra dimensão que pouca gente refere. Era um homem com preocupações metafísicas. A sua tese, inclusive, foi sobre Jean-Paul Sartre: “Implicações substancialistas na filosofia sartriana”. Era alguém que pensava para além dos acontecimentos e que refletia. Um dia disse-me: “Sanfras”, que era como me tratava, “se os meus amigos marxistas soubessem que eu leio São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila, Santo Agostinho, o que iriam pensar de mim?”.

Há uma reflexão pessoal que faço, nunca cheguei a falar com ele sobre isto, sobre uma das razões pelas quais ele era amigo de padres. O Zeca teve uma educação religiosa o mais tradicional e o mais traumática possível. Imagino que, a certa altura no seu percurso de vida, encontrando padres que vinham da linha do Concílio Vaticano II e que denunciavam a opressão, o fascismo e a guerra colonial, sentiu-se próximo dessas pessoas. Porque sentiu que, se calhar, viviam um cristianismo oposto àquele que ele tinha vivido e que lhe tinham incutido. E, inteligente como era, compreendeu as nossas razões, que eram, por um lado, denunciar a hipocrisia da Igreja, e, por outro, denunciar a cumplicidade perfeita entre a Igreja e o Estado. Porque a Igreja era o mais forte apoio moral da ditadura. Portanto, encontrar pessoas vindas da igreja que se empenhavam nesta denúncia era estimulante.

Lembro-me que o então prior de Palmela, o António Correia, que ainda é um grande amigo meu, deu a chave da sua casa paroquial ao José Afonso para este a utilizar, e ele ia lá principalmente nos momentos em que corria o risco de ser preso. O Zeca tinha muito em consideração quem queria viver num cristianismo a sério. Eu sentia que ele tinha preocupações de ordem espiritual, no sentido mais amplo da aceção da palavra, e que tinha admiração por aqueles que dentro da Igreja lutavam pela sua transformação.».

Esquerda-22 de Fevereiro, 2017

Zeca e Fanhais nos anos 80
Colaboração de Beatriz

sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Viriato Teles

Viriato Teles – Jornalista e escritor. Escreveu “As Voltas de um Andarilho - Fragmentos da vida e obra de José Afonso”, considerada uma das principais obras biográficas sobre o Zeca Afonso.

“Para os amigos – e para todos os que, de um modo ou de outro, o conheceram e conviveram com ele – José Afonso continua a ser o Zeca, bem mais homem do que mito. Bem-humorado, corajoso, hipocondríaco, despistado, consequente mesmo quando contraditório, intransigente nos princípios, dialogante nos meios e nos fins, sempre luminoso. José Afonso, o Zeca, foi mesmo isto tudo, e ainda mais. E, como explicava recentemente Luanda Cozetti num programa de rádio, cada um dos amigos dele pôde ir construindo o seu próprio Zeca, a partir das vivências particulares, e pode tê-lo hoje sempre por perto.

O meu Zeca é, assim, tão idêntico e tão único como o Zeca de Luanda ou o dos que partilharam com ele o palco e as lutas clandestinas. Mesmo se as lembranças que ficaram em quem com ele conviveram são frequentemente distintas e só pontualmente têm a ver com o artista: os episódios que mais rapidamente lembramos revelam quase sempre o cidadão, o militante da liberdade, o homem inquieto. Imperfeito, com certeza, como é próprio dos homens, e por isso mesmo consciente de que o mundo só muda se o obrigarmos a mudar. Coerente com esta convicção, Zeca fez a parte dele”.

Viriato Teles, 22 de Fevereiro 2017

Zeca Afonso, Fernando Assis Pacheco e Viriato Teles. Janeiro de 1983. Foto de Joaquim Bizarro.
Colaboração de Beatriz

terça-feira, 6 de outubro de 2020

"Crowdfunding"

De Rui Pato

JOSÉ AFONSO, muito provavelmente, o primeiro cantor português a utilizar a técnica do financiamento colectivo antecipado, o tão conhecido "crowdfunding", de modo a irmos para estúdio gravar o "Cantares do Andarilho" já com o LP vendido antevendo a possível caçada da PIDE ao disco logo que aparecesse no circuito comercial.

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

A Palavra e a Música

(título original de Manuela Tavares da Silva)

«(...) Semeio palavras na música. Não tenho pretensões de dar a estas minhas deambulações pela música qualquer outro rótulo. Faço apenas canções. A canção insere-se sempre dentro de um processo. A sua eficácia depende do processo em que se insere. A sua importância depende da vastidão desse processo.»

José Afonso





segunda-feira, 27 de julho de 2020

Zeca e a carta de condução

Beira - 1967

Zélia instiga Zeca a tirar a carta de condução de ligeiros (o que Zélia faz também), mas com tanto alheamento, que o instrutor a dada altura pára a viatura e pergunta: «O senhor é assim a modos que poeta, não é?»
O caso é que acabou encartado. O examinador no fim da prova diz: «Dr. José Afonso, vou dar-lhe a carta, mas quando chegar a Portugal não se esqueça de praticar durante uns tempos antes de começar a conduzir.»

Zeca nunca voltou a conduzir, era Zélia que o fazia por ele.

Zeca no sidecar do tio Augusto (1933) - Bié (Angola)

sábado, 18 de julho de 2020

Agosto de 1971 - Fuzeta

Mesmo em férias, sempre sob o olhar da PIDE

Registo de um PIDE da delegação de Faro

«... terra da naturalidade da sua esposa... mais informo que o referenciado teria feito recentemente um pedido à Câmara Municipal de Olhão para realizar na Fuzeta um espetáculo totalmente preenchido com fados e baladas da sua autoria, tendo o mesmo sido indeferido.»

foto: Zeca na Fuzeta em 1973 com Zélia e um grupo de amigos