sexta-feira, 27 de maio de 2016

Zeca Afonso em Sartrouville - 1970

"Tanto as minhas canções como as do Tino Flores"..."destinam-se a despertar, tanto quanto possível, certos sentimentos nas pessoas, quer dizer, fazer as pessoas refletir, fazer as pessoas pensarem em determinado número de problemas que eu acho que são urgentes."

Zeca Afonso, Sartrouville, 1970

Sabotagem levada a cabo pela extrema esquerda em Sartrouville a Zeca Afonso e a Tino Flores.

"UMA ACÇÃO VITORIOSA E EXEMPLAR: A SABOTAGEM DO SARAU HIPOCRITAMENTE INTITULADO DE “CANÇÕES DE COMBATE” NA MUTUALITÉ (10.11.70)"

1. Publicamos este texto para, alargar o processo de desmascaramento político iniciado na Mutualité (já tratado neste FB), na famosa noite que podemos chamar da ”Oposição do Vigário”, se bem que apresentada abusiva e descaradamente como da "canção de combate” portuguesa.(...)

2. Refiramos primeiro alguns factos pouco conhecidos, mas que ajudam a explicar o que se passou. O cantor Zeca Afonso (ou o dr. José Afonso, como gostam de dizer os seus empresários) veio até terras de França, até Paris, fazer uma "tounée" e redourar o seu prestigio com os aplausos do bom povo emigrante. Cantou no Ed. St. Michel, em Bologne-Billancourt, em Sartrouville, na Republique e, finalmente, na Mutualité, por todo o lado onde cantou, desiludiu e provocou um certo numero de criticas de esquerda, quer de trabalhadores quer de estudantes, que haviam ido vê-lo, atraídos pela auréola de "cantor popular” que uma certa corrente lhe criou e que o nosso atraso politico tem permitido que dure. Acontece que os nossos bem conhecidos “democratas” e "homens de esquerda" tudo fizeram para reprimir essas criticas: ora, quando se dava o caso de serem numerosos, os camaradas que criticavam e se mostravam descontentes apanhavam roda de provocadores e de brutos, a quem essas coisas da ”cultura” e da "beleza” eram inacessíveis, ora, quando isolados, eram simplesmente sovados, como aconteceu na Republique. Isto para não falar nos que, como em Sartrouville, abandonaram o espectáculo a meio, enfastiados pela choradeira pegada do nosso “artista”."

Fim de citação

Mais aqui:

http://1969revolucaoressaca.blogspot.pt/2015/11/1970-11-14-uma-accao-vitoriosa-e.html

Zeca cantou em Sartrouville,

- Natal dos Mendigos (Natal dos Simples)
- Resineiro engraçado
- Menino d'Oiro
- Na quarta canção, Zeca manifesta-se contra os distúrbios que se começam a ouvir na sala e canta "Senhora do Almortão".

Depois canta o Tino Flores mas o ambiente torna-se pesado, o que leva Tino Flores a intervir. Depois Zeca volta a referir a situação criada por esse grupo e acaba a atuação com "Cantar Alentejano".

Um pequeno excerto áudio dessas intervenções.

terça-feira, 10 de maio de 2016

Zeca Afonso apoia Rui Pato

Ilha Nua

Passeio (Hikaru Hayaski) - Tema de Água (Hikaru Hayaski) - Crepúsculo (Rui Pato) - Sons de Carrilhões (João Pernambuco/arr. Rui Pato)

"Este é um disco que tem pouca história para contar.

Estávamos nos anos de 64 ou 65, já não sei muito bem.

Eu já tinha gravado um disco com temas de José Afonso, esse por insistência do Arnaldo Trindade e do Zeca, que me convenceram a isso, já que, na altura, quase não se falava nem praticava em Portugal a viola dedilhada; o instrumento quase só era utilizado para acompanhamentos.

O disco (com os temas do Zeca) tinha tido algum sucesso e a edição (pequena, tinha vendido sofrivelmente).

Um ou dois anos depois (sempre o meu problema com as datas!!!) fui ver um filme que andava aí pelas salas de cinema ("A Ilha Nua"), filme japonês, de grande qualidade e... apaixonei-me literalmente pelo filme e pela sua música.

Comecei, de memória, a tentar tocar os seus dois temas principais. Um amigo meu conseguiu adquirir o disco com a música do filme (ainda tenho esse EP) e então eu, de ouvido, tirei essas duas músicas.

Quando tocava aquilo para os amigos ou num ou noutro espectáculo, era um sucesso!

E então a roda de amigos meus, o meu pai, o Zeca e outras pessoas (incluindo o grande pintor Assunção Diniz - autor da belíssima aguarela da capa do EP) convenceram-me a falar com a editora propondo-lhe a gravação.

Assim foi, aceitaram, gravei por 1.000$00 de cachet (eu nos acompanhamentos do Zeca ganhava 500$00) e... pronto! É esta a história deste disco e deste tema que é dos únicos que eu ainda consigo tocar decentemente!"

Rui Pato

Daqui:

http://guedelhudos.blogspot.com/2011/06/2-e-ultimo-ep-de-rui-pato-1965.html


quinta-feira, 5 de maio de 2016

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Rui Pato interpreta em viola José Afonso

Rui Pato​ foi sem dúvida alguma, um menino prodígio. Autodidacta, aprende a tocar viola ouvindo música através da aparelhagem "Grundig" conforme o refere numa entrevista. Penso ter sido o mais novo viola (16 anos) a gravar discos. Com essa idade acompanhou dois dos nossos melhores cantautores, José Afonso (1962) e Adriano Correia de Oliveira (1963).

Da sua discografia consta:

Com José Afonso

47 temas nos discos 1ª edição (incluiu dois instrumentais "BALADA DO OUTONO" e "CANTO DA PRIMAVERA" no LP BALADAS E CANÇÕES - 1964)

2 instrumentais em reedições de discos ("SELECÇÃO DE BALADAS" e "CANÇÃO LONGE" no EP BALADAS DE COIMBRA - Discos Rapsódia Lda.) (EPF 5.437 - 1969) (reedição do EP de 1963 com alterações no alinhamento)

1 instrumental noutra reedição ("Crepúsculo" no EP "Baladas" - 1969).

Com o Adriano Correia de Oliveira grava 41 temas

2 EPs com António Bernardino (8 temas)

2 EPs com o José Manuel dos Santos (8 temas)

1 LP (1986) e um CD (1996) acompanhando a guitarra do Francisco Martins (19 temas)

1 EP acompanhando a guitarra do António Pinho Brojo (4 temas)

1 LP gravado em Paris para a Barcleys acompanhando temas de José Afonso, interpretadas por um emigrante português, Germano Rocha (12 temas)

1 EP com António Portugal e Manuel Borralho (4 temas)

2 EPs a solo, "Rui Pato interpreta em viola José Afonso" e "Ilha Nua" (8 temas)

Entre acompanhamentos e a solo, são 153 os temas que Rui Pato interveio em pouco mais de 10 anos (há arranjos em temas não gravados pelo Rui). É obra!

Pela primeira vez podemos ouvir na sua totalidade, este EP de 1964.

Na contracapa deste EP José Afonso escreveu:

"A viola, como instrumento destinado a acompanhar o cantor, foi perdendo nos nossos dias o papel subalterno que lhe destinavam os tradicionais conjuntos de guitarras.

Quer como factor de execução com a finalidade de indicar ou desenvolver uma tema musical adequado às suas características e recursos, quer interpretando, a par da voz humana, o papel de protagonista num diálogo que não admite interferência de outra qualidade expressiva, a sua autonomia exige da parte do ouvinte uma intimidade e uma discreção idêntica à que em tempos prendia o trovador ao seu auditório.

Estas canções, ditas e executadas pela viola de Rui Pato, pretendem restituir-vos a esse clima inicial de silêncio a que a sua sensibilidade, pouco afeita aos ritmos trepidantes da guitarra eléctrica, se foi de há muito habituando.

Pela delicadeza das suas interpretações, valorizadas por uma acertada combinação de acordes, oscilando em cadências sempre variadas num processo de construção melódica que incessantemente se renova - esses solos constituem uma experiência que, creio eu, agora se inicia no nosso panorama musical."


Curioso o facto de num dos temas estar "Bem Safrim" e não "Bensafrim" conforme consta na edição do disco do Zeca.

"O nome da localidade de Bensafrim pertencia à própria comunidade, e remetia para a existência de uma oficina de Lapidaria da época Proto-histórica, onde se esculpiam os Herouns ou seja, as Estelas Monumentais Funerárias e que, possivelmente fornecia toda a região do actual Barlavento Algarvio.

A palavra Bensafrim pertence ao idioma peninsular do sul de Portugal. Ela desdobra-se em ( Ben Sab’r In = Ben Sab(i)r In(scribir) ou seja actualmente ( Bem Saber Inscrever ) = ( traçar inscrita, gravar, esculpir e registar )

A palavra "Ben" ( de Bem ), foi utilizada no Oriente, no ramo Shemita Hebraico como ( = Ben ), para significar o nome "Filho". Pois era costume usual antigamente, no primitivo idioma do sudoeste, de empregar-se o termo popular "Mô Ben" ( Meo Ben ) ao filho. Ainda actualmente esse termo "Meu Bem", persiste na expressão popular Portuguesa.

Também a palavra ( Saphrim ou Safrim ), podemos encontrá-la no ramo ibérico do idioma Shemita Hebraico ( = Sopherim), que significa ( Escriba ).

Assim sendo, talvez a tradução mais adequada para a palavra "Bensafrim" seja a de: "Terra dos Bons Escribas" ou "Terra dos Bons Inscribas-Epigráficos"."

Daqui:

http://wikimapia.org/2063186/hy/Bensafrim

terça-feira, 3 de maio de 2016

António Brojo sobre Zeca Afonso e o fado de Coimbra

"... aparece o Zeca Afonso, à volta de 1948, também cantando exclusivamente o fado tradicional. (...)

O Zeca Afonso nessa altura era um cantor tradicional, tendo uma voz de pouca amplitude. Tinha uma voz fraca para cantar o fado tradicional. O ele ter explorado a balada, não há dúvida nenhuma que é esse o tipo de música que ele, já nessa altura, considerava mais adequado à sua maneira de ser e para as suas possibilidades vocais. Aliás, ele tinha uma coisa muito curiosa. Eu posso-lhe contar um episódio. Fomos fazer aí um espectáculo e ele cantou o “Águia que vais tão alta” maravilhosamente. Deram-lhe aplausos. E no fim há um sujeito, um antigo estudante, um velhinho, que vai ter com ele e lhe diz “Você é realmente um cantor extraordinário e deve ser muito feliz”. E diz ele, “Você está enganado”, e acrescenta com aquele ar dele “Eu nem gosto do Fado de Coimbra”. Isto mostra que realmente o Zeca Afonso tinha de evoluir para outro tipo de música.

Ele passou férias em minha casa no Algarve, várias vezes, ele era um homem despegado do dinheiro e às tantas chegava ao meio do mês de Agosto e não tinha o dinheiro e ia para minha casa para ter autonomia. Era realmente um artista, um poeta. E nessa altura acompanhei-o, por exemplo na “Balada do Outono” e numa série de canções que ele fez por essa altura. Eu encontrei-me perante um Zeca Afonso a cantar coisas completamente diferentes.

E repare, se nós quisermos ser justos relativamente ao Zeca Afonso, eu recordo-me perfeitamente dele ter afirmado por volta de 1974 que não queria guitarras a acompanhá-lo, que não queria “raquetes” a acompanhá-lo, como ele chamava à guitarra. Ele não cantava fado de Coimbra. Fado de Coimbra era uma coisa abominável. Ele aí teve também um papel de certa maneira prejudicial. Prejudicou o fado de Coimbra. Depois ele fez contrição. E quando edita o disco de fado de Coimbra (1981) ele vem desdizer tudo quanto tinha afirmado."

Daqui:

http://guitarradecoimbra.blogspot.pt/2006/08/duas-horas-de-conversa-com-antnio.html

Uma retificação: António Brojo não acompanhou Zeca no LP "Balada do Outono". Pode tê-lo feito em algum evento, no LP os instrumentistas foram:

"António Portugal, Eduardo Melo, Manuel Pepe e Paulo Alão"

António Brojo gravou com o Zeca os seguintes singles

FADOS DE COIMBRA (1953):

CONTOS VELHINHOS/INCERTEZA/FADO DAS ÁGUIAS/O SOL ANDA LÁ NO CÉU

e no EP ZECA EM COIMBRA que, como se sabe, foi editado à revelia do Zeca.

O 1º single onde António Brojo acompanha José Afonso.