segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Júlio Isidro - SÓ SOMOS NÓS COM OS OUTROS.

Os Setes de Ouro , iniciativa do semanário SE7E , representavam um estimulante orgulho para quem os recebia, garantidos por um júri. de prestigiados nomes do jornalismo, artes, letras e espectáculos.

Passo os olhos por estes prémios e outros, todos os dias, não em contemplação embevecida, assim como quem enche o ego de baba arrogante. Apenas porque estão na sala onde jantamos , ali estão mesmo em frente do meu lugar à mesa.

E penso que valem para mim, na justa medida em que tive o privilégio de integrar um grupo de nomes cujo talento me engrandeceu. Ali estava entre alguns dos nossos melhores, eu com este feitio de enfezar a auto estima, quase me sentia o suplente de tão grande equipa . Nesses dois anos de 1981 e 82 foram-me atribuídos cinco canudos do SE7E, mas há um que me anima a vida nos momentos difíceis e me enche o peito de ar em horas decisivas, quando é preciso dar o melhor de mim.

José Afonso recebeu o Prémio Especial SE7E de Ouro e eu o Prémio da Popularidade SE7E de Ouro.

O menino Julinho, o tio Julião, apenas o Júlio, ao lado do poeta das nossas utopias, a voz dos nossos silêncios , o grito da nossa condição, a doçura dos nossos corações.

Aconteça o que acontecer quando chegar ao fim, não serão os anos de vida que irão contar, mas a vida que preencheu esses anos.

Escrevo estas linhas, após ter descoberto num saco de uma sapataria, já rasgado, este testemunho de vida , perdido entre tantos recortes que irei juntar à minha biografia.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Editora Orfeu - Arnaldo Trindade

A editora Orfeu, criada por Arnaldo Trindade, em 1956, possibilitou a edição de discos de grandes nomes da música portuguesa como Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira.

A história de Trindade é exemplar do que era a época: quando começou a Orfeu tinha apenas «19 ou 20 anos», diz. O dinheiro vinha do pai, que era «o representante em Portugal da Philco, uma subsidiária da Philips com linha de televisão e frigoríficos». Trindade era um estudante de engenharia interessado pelas artes na década de 1950; chegou a conhecer Teixeira de Pascoaes.

Igualmente apaixonado por música, queria fazer uma editora e começou por juntar os seus dois amores lançando discos de poetas a ler a sua poesia: Torga, Régio, Sophia de Mello Breyner, Eugénio de Andrade, etc. «Eles não percebiam porque é que eu os queria gravar. Tive de lhes explicar que em França o Sartre e o Cocteau já faziam isto há muito».

Era, a todos os títulos, um homem sofisticado e, rapidamente, começou a gravar vários tipos de música: «grupos amadores de jazz, de ingleses e alemães que viviam no Porto, gente como Pedro Osório e os Pop Five, um trio chamado Los Paraguaios, o Conjunto António Mafra, a fadista Maria da Fé». A seguir começou a gravar música folclórica: «os grupos folclóricos eram produções muito baratas e por isso davam dinheiro». Depois passou para os fados de Coimbra, com Adriano, e foi assim que José Afonso lhe chegou. E também este lhe deu dinheiro: «o Cantares do Andarilho vendeu bem».

Apesar disto, Afonso sempre se queixou de falta de dinheiro e, por vezes, os amigos juntavam-se para o ajudar (como fizeram ao comprar-lhe um carro, num peditório organizado por Carlos do Carmo). As versões diferem: Arnaldo Trindade diz que José Afonso tinha «o melhor contrato» da Orfeu, «equiparável ao de qualquer grande artista português…»

Blitz - 23.02.2019


Colaboração de Bea Triz

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

domingo, 10 de janeiro de 2021

Postal de José Afonso a Natália Correia - Dezembro de 1986

Cara Natália

Não consigo ver televisão, mas a sua presença. Vi por momentos um programa na TV em que você intervinha, sobre o tema “Amor e paixão”.
Gostei de ouvir a sua afirmação de que é necessário recuperar a cultura dos incultos. Preciso da sua presença nem que seja por momentos na TV.
Um abraço amigo do
José Afonso

daqui: http://www.aja.pt/para-natalia-correia/


Colaboração de Anália Gomes