quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Editora Orfeu - Arnaldo Trindade

A editora Orfeu, criada por Arnaldo Trindade, em 1956, possibilitou a edição de discos de grandes nomes da música portuguesa como Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira.

A história de Trindade é exemplar do que era a época: quando começou a Orfeu tinha apenas «19 ou 20 anos», diz. O dinheiro vinha do pai, que era «o representante em Portugal da Philco, uma subsidiária da Philips com linha de televisão e frigoríficos». Trindade era um estudante de engenharia interessado pelas artes na década de 1950; chegou a conhecer Teixeira de Pascoaes.

Igualmente apaixonado por música, queria fazer uma editora e começou por juntar os seus dois amores lançando discos de poetas a ler a sua poesia: Torga, Régio, Sophia de Mello Breyner, Eugénio de Andrade, etc. «Eles não percebiam porque é que eu os queria gravar. Tive de lhes explicar que em França o Sartre e o Cocteau já faziam isto há muito».

Era, a todos os títulos, um homem sofisticado e, rapidamente, começou a gravar vários tipos de música: «grupos amadores de jazz, de ingleses e alemães que viviam no Porto, gente como Pedro Osório e os Pop Five, um trio chamado Los Paraguaios, o Conjunto António Mafra, a fadista Maria da Fé». A seguir começou a gravar música folclórica: «os grupos folclóricos eram produções muito baratas e por isso davam dinheiro». Depois passou para os fados de Coimbra, com Adriano, e foi assim que José Afonso lhe chegou. E também este lhe deu dinheiro: «o Cantares do Andarilho vendeu bem».

Apesar disto, Afonso sempre se queixou de falta de dinheiro e, por vezes, os amigos juntavam-se para o ajudar (como fizeram ao comprar-lhe um carro, num peditório organizado por Carlos do Carmo). As versões diferem: Arnaldo Trindade diz que José Afonso tinha «o melhor contrato» da Orfeu, «equiparável ao de qualquer grande artista português…»

Blitz - 23.02.2019


Colaboração de Bea Triz

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