sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Os amigos de Zeca - Francisco Naia - I

De como eu me cruzei com o José Afonso em Aljustrel - I

É curioso verificar quantos herdeiros tem o José Afonso. De facto, só à sua sombra contam-se largas centenas de sobreviventes, fora aqueles que se arvoraram em ser a sua alma cantante, imitando os seus discos até à exaustão, sem esquecer os movimentos respiratórios e as inflexões vocálicas do mestre.

Há mesmo tipos, que, qual culto Menphis (Elvis Presley), com as caras mais exóticas e com um ar de seminaristas inocentes, que nada tinha a ver com o José, mas que, apesar de tudo, cantam as suas canções com respeito e interesse pela obra do mestre. Mas por acaso sabem quem foi o José Afonso? O Homem simples e sensível? O professor que sabia falar das histórias da história? O rebelde inflexível na denúncia das injustiças? O político que não voltava costas à luta? O Homem que cantava para os operários, para os camponeses, para os humilhados e oprimidos? O preso político? O homem que nunca pediu nada e que nada lhe deram no seu sofrimento? Alguém por acaso sentiu o momento maravilhoso da sua criatividade? E a felicidade que ele sentia quando via o fluir dos seus sonhos? E a dor na sua morte? Vamos lá, meus amigos, sejamos sinceros, vamos erguer bem alto a figura do Zeca, sem oportunismos e sem desvirtuar a personalidade dessa grande figura dos nossos tempos, nem a sua obra, que foi feita para o povo e só para o povo simples e oprimido.

Até dá vontade de perguntar: Se ele estivesse cá de que lado estaria, contra quem estaria? A resposta é bem evidente! Mas aposto que estaria desprezado pela maioria dos que agora o homenageiam imitam e cuja obra sabujam. Já para não falar nas editoras que nunca o respeitaram, e até o recusaram gravar, apesar de, em cada Abril, se encherem de dinheiro com as suas reedições ou gravação de discos oportunistas, sem que os seus direitos sejam devidamente resguardados. É de mais…

In Revista Memória Alentejana, Out.2007”


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