"Cantigas do Maio"
Sobre o som de passos que se ouve no "Grândola, Vila Morena" que faz parte deste LP.
"Ao pensar na estrutura e na encenação do tema, José Mário recua ele próprio para o seu passado no Alentejo. Alguns anos antes, ainda estudante, era habitual juntar-se a um grupo de amigos e rumar até à aldeia de Peroguarda, próxima de Beja. "Íamos às vezes passar as férias da Páscoa no meio dos camponeses". A experiência viria a ser determinante na gravação de "Grândola", pela imagem - mais visual até do que sonora - que guardava desse período. Ao ouvir Zeca cantar, José Mário recordou "os trabalhadores a virem da monda, cansados, naquela postura em que agora os vemos tipicamente a cantarem, abraçados, na largura da estrada toda e com o pé, o movimento, a fazer parte da música". Daqui, surgem duas ideias. A primeira: "Oh Zeca, por que não damos a isto a forma do cante alentejano - o ponto, o alto, a resposta do coro, a inversão de quadras?". A segunda: a incorporação desse movimento dos pés a marcarem o ritmo, a darem o chão para as vozes se levantarem.
É então que José Mário questiona Gilles sobre o melhor sítio para gravar estes passos. Assim, em volta da casa acastelada, com o estúdio instalado no sótão, fixam-se num espaço perto das dependências e das cavalariças, os pés na gravilha. Sallé desencanta uns enormes cabos de microfone e extensões igualmente longas para os auscultadores que emitiriam o metrónomo eletrónico. Depois, foi esperar pelas três da manhã, "porque podia passar uma motorizada numa estrada ou um carro, podia mugir uma vaca num campo ali ao lado". Abraçados como os camponeses, Zeca, José Mário, Bóris e Fanhais gravam três ou quatro minutos dos seus passos na gravilha, num movimento circular. No dia seguinte, os mesmos quatro gravam as vozes que ficariam para história da música portuguesa e da Revolução de Abril."
Sobre as fotos:
"Estou a ensinar-lhes os passos que os cantadores alentejanos fazem ao cantarem, a gravação só foi feita à noite para aproveitar o silêncio"
(comentário enviado por e-mail a Manuel Pedro Ferreira, director científico do projecto Arquivo José Mário Branco).
As fotografias foram tirada em 1971 por Patrick Ullmann, durante as gravações do álbum "Cantigas do Maio", de José Afonso, no Strawberry Studio em Herouville (França).
Fanhais, Zé Mário Branco e Zeca Afonso, em Paris, durante a gravação de Cantigas do Maio.
Foto: Patrick Ullmann
Sobre o som de passos que se ouve no "Grândola, Vila Morena" que faz parte deste LP.
"Ao pensar na estrutura e na encenação do tema, José Mário recua ele próprio para o seu passado no Alentejo. Alguns anos antes, ainda estudante, era habitual juntar-se a um grupo de amigos e rumar até à aldeia de Peroguarda, próxima de Beja. "Íamos às vezes passar as férias da Páscoa no meio dos camponeses". A experiência viria a ser determinante na gravação de "Grândola", pela imagem - mais visual até do que sonora - que guardava desse período. Ao ouvir Zeca cantar, José Mário recordou "os trabalhadores a virem da monda, cansados, naquela postura em que agora os vemos tipicamente a cantarem, abraçados, na largura da estrada toda e com o pé, o movimento, a fazer parte da música". Daqui, surgem duas ideias. A primeira: "Oh Zeca, por que não damos a isto a forma do cante alentejano - o ponto, o alto, a resposta do coro, a inversão de quadras?". A segunda: a incorporação desse movimento dos pés a marcarem o ritmo, a darem o chão para as vozes se levantarem.
É então que José Mário questiona Gilles sobre o melhor sítio para gravar estes passos. Assim, em volta da casa acastelada, com o estúdio instalado no sótão, fixam-se num espaço perto das dependências e das cavalariças, os pés na gravilha. Sallé desencanta uns enormes cabos de microfone e extensões igualmente longas para os auscultadores que emitiriam o metrónomo eletrónico. Depois, foi esperar pelas três da manhã, "porque podia passar uma motorizada numa estrada ou um carro, podia mugir uma vaca num campo ali ao lado". Abraçados como os camponeses, Zeca, José Mário, Bóris e Fanhais gravam três ou quatro minutos dos seus passos na gravilha, num movimento circular. No dia seguinte, os mesmos quatro gravam as vozes que ficariam para história da música portuguesa e da Revolução de Abril."
Sobre as fotos:
"Estou a ensinar-lhes os passos que os cantadores alentejanos fazem ao cantarem, a gravação só foi feita à noite para aproveitar o silêncio"
(comentário enviado por e-mail a Manuel Pedro Ferreira, director científico do projecto Arquivo José Mário Branco).
As fotografias foram tirada em 1971 por Patrick Ullmann, durante as gravações do álbum "Cantigas do Maio", de José Afonso, no Strawberry Studio em Herouville (França).
Fanhais, Zé Mário Branco e Zeca Afonso, em Paris, durante a gravação de Cantigas do Maio.
Foto: Patrick Ullmann
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