“Foi a hora de ir para Lisboa, para o que desse e viesse”
09/04/2014 Diário de Notícias
Zélia Afonso é natural da Fuzeta, Algarve. É a viúva de Zeca Afonso. Conhecem-se em Faro, em 1961, através de amigos comuns. Foi a segunda mulher do cantor e compositor, com quem teve dois filhos, Joana e Pedro. Vive hoje em Azeitão (Steven Governo/Global Imagens)
Onde estava no 25 de Abril?
Em Setúbal. O telefone toca a uma hora inabitual, sete da manhã, e dizem-me: “Liga a rádio!” Ouvi. Mais música do que o habitual, apenas sinais vagos…
O pide, tal como fizera nos últimos três dias, continuava a “guardar” a porta. E os filhos foram para a escola.
Qual foi a sua reação?
De expectativa, que rapidamente se transformou em alívio. Era preciso saber qual o “sinal” daquele golpe e aguardar a clarificação da situação.
Quando, à hora de almoço, o pide abandonou o posto de vigia, tivemos a certeza de que lado estavam os tanques e foi a hora de ir para Lisboa, para o que desse e viesse!
Que episódio a marcou mais?
O povo saiu à rua, num dia assim… Ver a saída dos presos políticos de Caxias e abraçá-los. Este acontecimento foi a confirmação de que a liberdade fazia parte de Abril.
Qual é a figura que na sua opinião marcou o 25 de Abril?
Mesmo sendo o 25 de Abril uma ação coletiva, destaco Otelo Saraiva de Carvalho e Salgueiro Maia.
O que mudou na sua vida pessoal?
Muito. A permanente vigilância da PIDE acabara. E todos queríamos uma “cidade sem muros, nem ameias/gente igual por dentro, gente igual por fora”.
O que de positivo trouxe o 25 de Abril?
Como diz o Sérgio Godinho, “a paz, o pão, saúde, habitação”. A liberdade, a esperança e a alegria de ver as pessoas tomarem o “destino” nas suas próprias mãos.
E de negativo?
Nem tudo o que se passou a seguir, como o 25 de Novembro, confirmou a esperança. “Foi um sonho lindo que acabou”, nas palavras do José Mário Branco, que partilho.
O que falta mudar?
“O que faz falta é empurrar a malta, o que faz falta”…
Ainda faz sentido falar nos ideais de Abril?
Os ideais de Abril fazem parte de qualquer sociedade que se queira democrática.
O que acha quando se diz que Portugal precisa de uma nova revolução?
Mais do que nunca, é necessário caminhar no sentido da justiça social e da solidariedade. Tanto a nível nacional como a nível internacional.
Entrevista editada por Bárbara Cruz
09/04/2014 Diário de Notícias
Zélia Afonso é natural da Fuzeta, Algarve. É a viúva de Zeca Afonso. Conhecem-se em Faro, em 1961, através de amigos comuns. Foi a segunda mulher do cantor e compositor, com quem teve dois filhos, Joana e Pedro. Vive hoje em Azeitão (Steven Governo/Global Imagens)
Onde estava no 25 de Abril?
Em Setúbal. O telefone toca a uma hora inabitual, sete da manhã, e dizem-me: “Liga a rádio!” Ouvi. Mais música do que o habitual, apenas sinais vagos…
O pide, tal como fizera nos últimos três dias, continuava a “guardar” a porta. E os filhos foram para a escola.
Qual foi a sua reação?
De expectativa, que rapidamente se transformou em alívio. Era preciso saber qual o “sinal” daquele golpe e aguardar a clarificação da situação.
Quando, à hora de almoço, o pide abandonou o posto de vigia, tivemos a certeza de que lado estavam os tanques e foi a hora de ir para Lisboa, para o que desse e viesse!
Que episódio a marcou mais?
O povo saiu à rua, num dia assim… Ver a saída dos presos políticos de Caxias e abraçá-los. Este acontecimento foi a confirmação de que a liberdade fazia parte de Abril.
Qual é a figura que na sua opinião marcou o 25 de Abril?
Mesmo sendo o 25 de Abril uma ação coletiva, destaco Otelo Saraiva de Carvalho e Salgueiro Maia.
O que mudou na sua vida pessoal?
Muito. A permanente vigilância da PIDE acabara. E todos queríamos uma “cidade sem muros, nem ameias/gente igual por dentro, gente igual por fora”.
O que de positivo trouxe o 25 de Abril?
Como diz o Sérgio Godinho, “a paz, o pão, saúde, habitação”. A liberdade, a esperança e a alegria de ver as pessoas tomarem o “destino” nas suas próprias mãos.
E de negativo?
Nem tudo o que se passou a seguir, como o 25 de Novembro, confirmou a esperança. “Foi um sonho lindo que acabou”, nas palavras do José Mário Branco, que partilho.
O que falta mudar?
“O que faz falta é empurrar a malta, o que faz falta”…
Ainda faz sentido falar nos ideais de Abril?
Os ideais de Abril fazem parte de qualquer sociedade que se queira democrática.
O que acha quando se diz que Portugal precisa de uma nova revolução?
Mais do que nunca, é necessário caminhar no sentido da justiça social e da solidariedade. Tanto a nível nacional como a nível internacional.
Entrevista editada por Bárbara Cruz
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