Testemunho de José Mario Branco
“Vieste, de menino de oiro pela mão, acordar a madrugada. E fez mais, às vezes, uma só canção do que muita panfletada” .
Nos depoimentos que frequentemente são produzidos acerca do Zeca Afonso acaba sempre por haver uma tendência para destacar as riquezas, sem dúvida apaixonantes e essenciais, da sua imensa personalidade. Tal facto dever-se-á por certo à clara transparência da sua prática de vida e à naturalidade com que punha, no mais quotidiano gesto, todo o sentido dos valores que respirava – numa palavra, o exemplo que foi todo o seu percurso como cidadão, companheiro e artista.
Mas José Afonso – a par de Ferré, Brel, Yupanqui, Dylan ou Chico Buarque – é um dos poucos autores/intérpretes que, no nosso século, provaram que a forma musical “canção popular” ultrapassa muito o estatuto de arte menor e atinge os mais altos níveis de qualidade estética poético-musical.
Num país (e numa época) em que, por força da opressão, a criação – frágil e livre – se viu obrigada a alistar-se nos exércitos da utilidade social, é de esperar que se repare mais na luminosidade do exemplo do que na genialidade intrínseca da obra.
“Vieste, de menino de oiro pela mão, acordar a madrugada. E fez mais, às vezes, uma só canção do que muita panfletada” .
Nos depoimentos que frequentemente são produzidos acerca do Zeca Afonso acaba sempre por haver uma tendência para destacar as riquezas, sem dúvida apaixonantes e essenciais, da sua imensa personalidade. Tal facto dever-se-á por certo à clara transparência da sua prática de vida e à naturalidade com que punha, no mais quotidiano gesto, todo o sentido dos valores que respirava – numa palavra, o exemplo que foi todo o seu percurso como cidadão, companheiro e artista.
Mas José Afonso – a par de Ferré, Brel, Yupanqui, Dylan ou Chico Buarque – é um dos poucos autores/intérpretes que, no nosso século, provaram que a forma musical “canção popular” ultrapassa muito o estatuto de arte menor e atinge os mais altos níveis de qualidade estética poético-musical.
Num país (e numa época) em que, por força da opressão, a criação – frágil e livre – se viu obrigada a alistar-se nos exércitos da utilidade social, é de esperar que se repare mais na luminosidade do exemplo do que na genialidade intrínseca da obra.
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