Diz Fausto:
«Em 1975, o MFA convida-me a mim, ao Zeca e ao Adriano para irmos a Angola. Fomos cantar e tocar em sessões prioritariamante dedicadas aos soldados portugueses que lá estavam, com os acordos de Alvor ainda frescos (Janeiro de 1975). O espetáculo na cidadela de Luanda teve mais de vinte mil pessoas. Além de nós, actuaram o Rui Mingas, o Tonito, Lamartine (Carlos) e um conjunto angolano, Merengue. Viajávamos num avião da Força Aérea e fizemos espetáculos em Cabinda...» (in Zeca Afonso - "Livra-te do Medo" de José A. Salvador)
... E foi em Cabinda que conheci Zeca Afonso. Tinha vindo da floresta do Maiombe, de Tando Zinze propriamente dito onde tínhamos o aquartelamento, aquartelamento esse que foi entregue ao MPLA. Aguardava no B.Caç.11 (Gorilas do Maiombe) embarque para Luanda onde iria passar à disponibilidade quando fomos convidados para irmos ao Cinema Chiloango onde iriam cantar o Zeca, Fausto e Adriano (a tropa que estava no B. Caç.11 tinha duas alternativas, ou no dia seguinte iam à praia ou iam nessa noite ver o Zeca e Adriano ao Chiloango).
Já ouvia Zeca do qual tinha muitas cassetes com músicas dele. Nessa época não me apercebi que Zeca era uma "persona non grata" para o Estado Novo, pois em Angola a influência da PIDE era muito discreta e nem sabia que existia. Ouvia as canções do Zeca sem problemas e na tropa até parodiávamos com os nossos superiores cantando a "Ronda dos Paisanos" mas com letras nossas as quais já não me lembro.
O Cinema Chiloango estava apinhado de soldados. Eu sentei-me fardado na escadaria que dava acesso ao palco (houve algum descontentamento por parte dos militares tendo em conta que parte do Chiloango estava ocupado por civis e o espectáculo era para militares. Os civis estavam sentados nas cadeiras e os militares já não tinham lugar e ficaram sentados nas escadas ou de pé*).
Quem apresentou Zeca, Fausto e Adriano foi um antigo meu capitão que nos roubava o pré na recruta e passou a "revolucionário".
"Trova do Vento que Passa", "Os Vampiros" e tantas outras canções que ouvia no meu gravador passaram por aquele palco. Última canção... "Grândola, Vila Morena". Aqui o Zeca pediu para quem quisesse, subir ao palco para cantar com ele. Mal tinha acabado de dizer isto já eu estava com o meu braço enlaçado no dele.
*informação prestada posteriormente pelo camarada Fernando Correia que também assistiu ao espetáculo.
Cabinda - de 20 para 21 de janeiro de 1975.
"Hoje (ontem) houve um espectáculo com José Afonso, Rui Mingas e Adriano Correia de Oliveira (neste meu escrito não faço referência a Fausto, que também participou).
Fui assistir a esse espectáculo onde imperou um pouco de alegria, que fez com que não se notasse por aí além a má orientação do espectáculo.
Trouxe um pouco de calor, um pouco de desfasamento da vida quotidiana e viram-se artistas que só se conhecia através dos discos.
Fez por momentos esquecer a minha situação aqui na tropa e nas canções tipo balada, não houve nada que fosse novo. Somente um espectáculo pró razoável (contava com melhor) e nada mais."
Assim escrevi no ano longínquo de 1975 sobre o que tinha visto no Cinema Chiloango em Cabinda. Noto que digo que nada trouxe de novo, sinal que ouvia e muito tanto o Zeca como Adriano Correia de Oliveira, na altura o meu cantor preferido.
Esta foto é uma montagem. Exceto a dos três cantores (Zeca, Fausto e Adriano que é de uma foto tirada na Cidadela em Luanda onde eles atuaram a 25 de janeiro de 75, ou seja, 5 depois de terem estado em Cabinda), a outra é o cinema Chiloango do tempo em que eles lá estiveram, e eu com o camuflado (também em Cabinda), conforme estava vestido quando os vi atuar. Como o referi é uma montagem, só para relembrar que no dia 20 de janeiro de 1975, eu estava ali ao lado destes grandes cantores de intervenção.
«Em 1975, o MFA convida-me a mim, ao Zeca e ao Adriano para irmos a Angola. Fomos cantar e tocar em sessões prioritariamante dedicadas aos soldados portugueses que lá estavam, com os acordos de Alvor ainda frescos (Janeiro de 1975). O espetáculo na cidadela de Luanda teve mais de vinte mil pessoas. Além de nós, actuaram o Rui Mingas, o Tonito, Lamartine (Carlos) e um conjunto angolano, Merengue. Viajávamos num avião da Força Aérea e fizemos espetáculos em Cabinda...» (in Zeca Afonso - "Livra-te do Medo" de José A. Salvador)
... E foi em Cabinda que conheci Zeca Afonso. Tinha vindo da floresta do Maiombe, de Tando Zinze propriamente dito onde tínhamos o aquartelamento, aquartelamento esse que foi entregue ao MPLA. Aguardava no B.Caç.11 (Gorilas do Maiombe) embarque para Luanda onde iria passar à disponibilidade quando fomos convidados para irmos ao Cinema Chiloango onde iriam cantar o Zeca, Fausto e Adriano (a tropa que estava no B. Caç.11 tinha duas alternativas, ou no dia seguinte iam à praia ou iam nessa noite ver o Zeca e Adriano ao Chiloango).
Já ouvia Zeca do qual tinha muitas cassetes com músicas dele. Nessa época não me apercebi que Zeca era uma "persona non grata" para o Estado Novo, pois em Angola a influência da PIDE era muito discreta e nem sabia que existia. Ouvia as canções do Zeca sem problemas e na tropa até parodiávamos com os nossos superiores cantando a "Ronda dos Paisanos" mas com letras nossas as quais já não me lembro.
O Cinema Chiloango estava apinhado de soldados. Eu sentei-me fardado na escadaria que dava acesso ao palco (houve algum descontentamento por parte dos militares tendo em conta que parte do Chiloango estava ocupado por civis e o espectáculo era para militares. Os civis estavam sentados nas cadeiras e os militares já não tinham lugar e ficaram sentados nas escadas ou de pé*).
Quem apresentou Zeca, Fausto e Adriano foi um antigo meu capitão que nos roubava o pré na recruta e passou a "revolucionário".
"Trova do Vento que Passa", "Os Vampiros" e tantas outras canções que ouvia no meu gravador passaram por aquele palco. Última canção... "Grândola, Vila Morena". Aqui o Zeca pediu para quem quisesse, subir ao palco para cantar com ele. Mal tinha acabado de dizer isto já eu estava com o meu braço enlaçado no dele.
*informação prestada posteriormente pelo camarada Fernando Correia que também assistiu ao espetáculo.
Cabinda - de 20 para 21 de janeiro de 1975.
"Hoje (ontem) houve um espectáculo com José Afonso, Rui Mingas e Adriano Correia de Oliveira (neste meu escrito não faço referência a Fausto, que também participou).
Fui assistir a esse espectáculo onde imperou um pouco de alegria, que fez com que não se notasse por aí além a má orientação do espectáculo.
Trouxe um pouco de calor, um pouco de desfasamento da vida quotidiana e viram-se artistas que só se conhecia através dos discos.
Fez por momentos esquecer a minha situação aqui na tropa e nas canções tipo balada, não houve nada que fosse novo. Somente um espectáculo pró razoável (contava com melhor) e nada mais."
Assim escrevi no ano longínquo de 1975 sobre o que tinha visto no Cinema Chiloango em Cabinda. Noto que digo que nada trouxe de novo, sinal que ouvia e muito tanto o Zeca como Adriano Correia de Oliveira, na altura o meu cantor preferido.
Esta foto é uma montagem. Exceto a dos três cantores (Zeca, Fausto e Adriano que é de uma foto tirada na Cidadela em Luanda onde eles atuaram a 25 de janeiro de 75, ou seja, 5 depois de terem estado em Cabinda), a outra é o cinema Chiloango do tempo em que eles lá estiveram, e eu com o camuflado (também em Cabinda), conforme estava vestido quando os vi atuar. Como o referi é uma montagem, só para relembrar que no dia 20 de janeiro de 1975, eu estava ali ao lado destes grandes cantores de intervenção.
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