No ano seguinte a gravação foi em Paris, no Estúdio Aquarium. O Zeca resolveu – e bem – reconstituir a equipa de "Cantigas do Maio", isto é, José Mário Branco e Gilles Sallé, o engenheiro de som. O Zé Mário estava à nossa espera mas, sobre o que o Zeca ia cantar, a informação que tinha era muito escassa. Foi o ano de "Venham mais cinco".
Talvez tenha sido a semana mais dura na vida musical do Zé Mário: de dia gravávamos e à noite ele ia escrever os arranjos para o dia seguinte. Quando chegou o fim da gravação nem podia com uma gata pelo rabo. Este disco contém algumas das melhores canções da obra do Zeca: "Venham mais cinco", "Era um redondo vocábulo", "Que amor não me engana", "A formiga no carreiro", "Gastão era perfeito" e algumas outras. Ficámos instalados num dos melhores hotéis de Paris, o PLM (da cadeia Paris-Lyon-Marseille, recentemente inaugurado).
Tudo era climatizado, as janelas dos quartos e de todo o hotel eram estanques, tudo funcionava com ar condicionado. O ar que respirávamos era quente e absolutamente seco. O pior para a voz de qualquer cantor. O Zeca pediu-me para mudarmos de hotel, mas já estava tudo pago e o tempo ia passando. Ensinei-lhe um truque que tinha aprendido na Suécia quando o tampo da minha guitarra estalou por causa do ar seco: abrir a torneira da água quente da casa de banho e deixá-la a correr. Era a única forma de humidificar o ar. Não resolveu totalmente o problema, mas ajudou.
Quando o disco ficou pronto segui para Londres. Era lá que se iria fazer o corte do acetato e fabricar o LP. 1973 foi o ano da grande crise do petróleo. O vinil era um bem escasso e o que havia disponível já era reciclado. Quando fui à fábrica, nos arredores de Londres, fiquei decepcionado: aquilo parecia mais uma carpintaria que uma fábrica de discos. A Pye Records tinha enganado a editora. Regressei a Lisboa com os primeiros discos e telefonei ao Zeca para os ouvirmos em minha casa. Ele foi ouvindo, ouvindo, com expressão carregada e sem comentários. Mas, no fim, disse que aquilo não correspondia à qualidade do que tínhamos gravado em Paris e que não autorizava a venda. E tinha razão. A solução de recurso foi fazer a edição em Lisboa, numa fábrica onde ainda havia uma boa reserva de vinil do bom.
Mal sabíamos nós que "Venham mais cinco" seria o último disco do Zeca antes do 25 de Abril.
Talvez tenha sido a semana mais dura na vida musical do Zé Mário: de dia gravávamos e à noite ele ia escrever os arranjos para o dia seguinte. Quando chegou o fim da gravação nem podia com uma gata pelo rabo. Este disco contém algumas das melhores canções da obra do Zeca: "Venham mais cinco", "Era um redondo vocábulo", "Que amor não me engana", "A formiga no carreiro", "Gastão era perfeito" e algumas outras. Ficámos instalados num dos melhores hotéis de Paris, o PLM (da cadeia Paris-Lyon-Marseille, recentemente inaugurado).
Tudo era climatizado, as janelas dos quartos e de todo o hotel eram estanques, tudo funcionava com ar condicionado. O ar que respirávamos era quente e absolutamente seco. O pior para a voz de qualquer cantor. O Zeca pediu-me para mudarmos de hotel, mas já estava tudo pago e o tempo ia passando. Ensinei-lhe um truque que tinha aprendido na Suécia quando o tampo da minha guitarra estalou por causa do ar seco: abrir a torneira da água quente da casa de banho e deixá-la a correr. Era a única forma de humidificar o ar. Não resolveu totalmente o problema, mas ajudou.
Quando o disco ficou pronto segui para Londres. Era lá que se iria fazer o corte do acetato e fabricar o LP. 1973 foi o ano da grande crise do petróleo. O vinil era um bem escasso e o que havia disponível já era reciclado. Quando fui à fábrica, nos arredores de Londres, fiquei decepcionado: aquilo parecia mais uma carpintaria que uma fábrica de discos. A Pye Records tinha enganado a editora. Regressei a Lisboa com os primeiros discos e telefonei ao Zeca para os ouvirmos em minha casa. Ele foi ouvindo, ouvindo, com expressão carregada e sem comentários. Mas, no fim, disse que aquilo não correspondia à qualidade do que tínhamos gravado em Paris e que não autorizava a venda. E tinha razão. A solução de recurso foi fazer a edição em Lisboa, numa fábrica onde ainda havia uma boa reserva de vinil do bom.
Mal sabíamos nós que "Venham mais cinco" seria o último disco do Zeca antes do 25 de Abril.
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