quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Testemunho de José Niza - Parte III

Entretanto - e também de Paris - vieram dois discos cantados por dois exilados políticos, os seus álbuns de estreia: "Mudam-se os tempos, Mudam-se as vontades", do José Mário Branco e "Sobreviventes", do Sérgio Godinho.

Estes quatro discos foram quase simultaneamente postos no mercado. E aconteceu um terramoto, uma revolução musical totalmente imprevista e inovadora na música popular portuguesa. Ao fim de mais de 35 anos ainda há réplicas desse terramoto. As marcas que deixou continuam a ser a matriz e referência da música que hoje se faz em Portugal. Todos estes quatro discos figuram na lista apertada dos melhores discos da segunda metade do século XX.

O curioso disto tudo é que nenhum de nós sabia o que os outros estavam a preparar. O Zé Mário e o Sérgio estavam em Paris e eu nem sequer os conhecia. O Zeca receava a genial encenação musical do José Mário Branco e nem sequer sabia para o que estava guardado. E o Adriano só depois de comigo entrar em estúdio é que soube o que verdadeiramente lhe iria acontecer.

Nos anos seguintes produzi, ou dirigi, quatro importantes discos do Zeca: "Eu vou ser como a toupeira" (Madrid - 1972), "Venham mais cinco" (Paris – 1973), "Coro dos Tribunais" (Londres – 1974) e "Com as minhas tamanquinhas" (Lisboa – 1976), os dois primeiros antes do 25 de Abril e os dois últimos, depois. A minha eleição para a Assembleia Constituinte e, depois, para a Assembleia da República, impediram-me de continuar a trabalhar com o Zeca - e na editora. O mais importante estava feito, o fascismo tinha sido derrubado e agora a música era outra.

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