Produzir discos do Zeca, ainda por cima no estrangeiro, era qualquer coisa de fascinante, de ciclópico e, sobretudo, uma experiência diferente do habitual.
Tudo começava com várias idas à casa do Zeca, em Setúbal, para escolher o reportório, a direcção musical, os acompanhantes e o estúdio onde iríamos gravar. Depois havia a insuportável, mas obrigatória, missão de enviar os poemas à censura. Eu aqui inventei um truque que quase sempre funcionou e que aprendi nas artes da pesca: era o "engodo". A verdade é que à ditadura não interessava calar totalmente o Zeca. Seria demasiado drástico e provocaria efeitos de "boomerang". À censura interessava sim, controlar o que o Zeca cantaria. Do mal, o menos. Percebendo isto, quando preparava um disco, por exemplo de 10 canções, eu pedia ao Zeca uns 15 poemas. Os que não eram para gravar – e nem sequer tinham sido por ele musicados – eram também os mais explícitos e acirradores.
Era sobretudo nesses que o lápis azul colocava a mordaça, deixando luz amarela ou verde para os outros. A estupidez dos censores era equivalente à satisfação do dever cumprido: em 15 cortavam 5 e estava o dia ganho. E eu agradecia. O engodo tinha funcionado. Mas a tarefa não terminava aqui. Era preciso marcar estúdio, combinar datas, tratar de viagens e hotéis, combinar cachets e contratar os músicos, arranjar restaurantes e pagar as contas, dar umas abébias para as rádios e para os jornais, tratar das capas dos discos e das fotografias. Quando as gravações eram lá fora eu levava o dinheiro em notas de banco e pagava "cash".
Quando finalmente entrávamos em estúdio, no estrangeiro, era preciso explicar aos engenheiros de som que música era aquela, o que se pretendia, quem era o cantor.
As gravações do Zeca eram diferentes das habituais em que, quando se entrava em estúdio, já quase tudo estava previsto e preparado. Para ele, o estúdio era sobretudo um laboratório de experiências, uma sala de ensaios, um espaço criativo. As soluções musicais eram geralmente encontradas no momento, à custa de sucessivas tentativas. O meu drama é que tudo aquilo tinha de começar e acabar em sete dias, que era o tempo reservado para as gravações. Se houvesse um atraso teríamos de regressar a penates porque no dia seguinte o estúdio já era para outros. A verdade é que os prazos foram sempre cumpridos.
Tudo começava com várias idas à casa do Zeca, em Setúbal, para escolher o reportório, a direcção musical, os acompanhantes e o estúdio onde iríamos gravar. Depois havia a insuportável, mas obrigatória, missão de enviar os poemas à censura. Eu aqui inventei um truque que quase sempre funcionou e que aprendi nas artes da pesca: era o "engodo". A verdade é que à ditadura não interessava calar totalmente o Zeca. Seria demasiado drástico e provocaria efeitos de "boomerang". À censura interessava sim, controlar o que o Zeca cantaria. Do mal, o menos. Percebendo isto, quando preparava um disco, por exemplo de 10 canções, eu pedia ao Zeca uns 15 poemas. Os que não eram para gravar – e nem sequer tinham sido por ele musicados – eram também os mais explícitos e acirradores.
Era sobretudo nesses que o lápis azul colocava a mordaça, deixando luz amarela ou verde para os outros. A estupidez dos censores era equivalente à satisfação do dever cumprido: em 15 cortavam 5 e estava o dia ganho. E eu agradecia. O engodo tinha funcionado. Mas a tarefa não terminava aqui. Era preciso marcar estúdio, combinar datas, tratar de viagens e hotéis, combinar cachets e contratar os músicos, arranjar restaurantes e pagar as contas, dar umas abébias para as rádios e para os jornais, tratar das capas dos discos e das fotografias. Quando as gravações eram lá fora eu levava o dinheiro em notas de banco e pagava "cash".
Quando finalmente entrávamos em estúdio, no estrangeiro, era preciso explicar aos engenheiros de som que música era aquela, o que se pretendia, quem era o cantor.
As gravações do Zeca eram diferentes das habituais em que, quando se entrava em estúdio, já quase tudo estava previsto e preparado. Para ele, o estúdio era sobretudo um laboratório de experiências, uma sala de ensaios, um espaço criativo. As soluções musicais eram geralmente encontradas no momento, à custa de sucessivas tentativas. O meu drama é que tudo aquilo tinha de começar e acabar em sete dias, que era o tempo reservado para as gravações. Se houvesse um atraso teríamos de regressar a penates porque no dia seguinte o estúdio já era para outros. A verdade é que os prazos foram sempre cumpridos.
Sem comentários:
Enviar um comentário