sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Testemunho de José Niza - Parte VIII

Em 1975 o Zeca fez greve às gravações. Não por falta de canções, mas por falta de tempo. Cantava em tudo o que era sítio. Apoiava os trabalhadores, sobretudo no Alentejo, na reforma agrária. Ou os pescadores do Algarve. Cantava no estrangeiro. O seu lema era: "Cantando espalharei por toda a parte". Grande parte dessas vivências e experiências foi transformada em canções no seu disco seguinte "Com as minhas tamanquinhas", um trabalho que na minha leitura, mais parece uma foto-reportagem musical.

Neste disco o Zeca canta pessoas concretas e conta estórias verídicas: Kissinger, Teresa Torga, os Índios da Meia-Praia, Como se faz um Canalha (Aventino Teixeira), Alípio de Freitas. Um verdadeiro álbum de canções em forma de fotografia. Neste trabalho o Zeca assumiu a orientação musical e nele colaboraram, entre outros, Fausto, Júlio Pereira, Michel Delaporte, Quim Barreiros (!!!), Ramon Galarza, Vitorino e eu próprio. Foi o último disco que fiz com o Zeca.

A partir daqui as suas gravações começaram a ser mais espaçadas: "Enquanto há força" (1978), "Fura-Fura" (1979), "Fados de Coimbra e outras canções" (1981), "Como se fora seu filho" (1983) e "Galinhas do Mato" (1985). Neste último disco o Zeca já estava gravemente doente. Morreria dois anos depois, vitimado por uma doença incurável, do foro neurológico, com o estranho nome de esclerose lateral amiotrófica.

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