quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Zeca na Tropa - 1953/1955

Cumpre a recruta em Mafra, sendo depois colocado num quartel em Coimbra e faz manobras em Santa Margarida.

"Ao cair da madrugada/ No quartel da guarda/ Senhor General/ Mande embora a sentinela/ Mande embora e não lhe faça mal" RONDA DOS PAISANOS, in Baladas e Canções (1967)

A tropa foi o buraco negro na sua biografia. Um tempo vácuo. Aborrecia-se mortalmente, não atinava com a culatra, com o percutor, o dente de armar, nem com formaturas e rotinas pautadas a toque de clarinete...

"Fui o menos classificado de todo o curso por falta de aprumo militar. Na formatura era um infantilismo pegado. Cachaças uns aos outros, ao mesmo tempo que se dizia "seu cagão". Era uma coisa indescritível. A mim pediram-me para sair da caserna porque tinha pesadelos e berrava que nem um chibo.
Fui aspirante miliciano no RI20 e aí notabilizei-me por alguns deslizes de caráter técnico."

Limitou-se a criar anticorpos, nas palavras do irmão, "contra todas as formas de constrangimento pessoal". A incompatibilidade com as tecnologias era quase genética. Nunca usou relógio, só muito tarde conseguiu acertar nos botões REC e PLAY do gravador, inventou um sistema de pautas para consumo próprio. E quando, anos mais tarde, em Moçambique, se meteu a tirar a carta de condução, o instrutor, depois de tantos alheamentos e ausências, voltou-se para ele e perguntou: "O senhor é assim a modos que poeta, não é?" Outra vez, entrou em casa, dirigiu-se ao frigorífico e sentou-se a comer pudim.

E estranhou: a mulher não costumava fazer pudim... Tinha entrado na casa de um vizinho.

Fontes e textos: José Afonso "Cronologia da Vida e Obra; "Livra-te do Medo" - José A. Salvador; "Os Lugares de Zeca Afonso" - Visão.

Foto: Diário de Lisboa


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