quinta-feira, 16 de outubro de 2014

«Tu morres todos os dias»

Tu morres todos os dias
libertando telefonemas
diante da minha mágoa
exposta à ira dos dias
levo-te cravos vermelhos
flores recentes da estação
Morres e vais caminhando
sobre uma estrada de fumo
o lume que nos sustenta
Já não cheira não tem vida
Às vezes vens-me à lembrança
descalça ao longo da praia
Vivo terrores de madraço
Com dívidas acumuladas
Seguindo de perto o tráfego
Saberei um dia amar-te
Tu morres tu pontificas
eu respiro a tua sombra
Ai repouso do guerreiro
Sobre o abismo repousas


Azeitão, 31 de Março de 1981
José Afonso. Texto e Canções

Sem comentários:

Enviar um comentário