"Aos fins de semana, saíamos pela tarde, aparelhados. O Alvaro Simões, que por lá ficou, moçambicano por opção, com a sua câmara fotográfica a tiracolo, eu armado da minha 8 mm. de filmar, e o Zeca. Com todos os complementos da ordem: tripés, jogos de lentes e filtros, fotómetros, gravador, que sei eu. Isto depois de termos espiado o céu, medindo a olho a luminosidade e o “calor” da luz.
E, quando o sol a meio do quadrante perdia o gume de aço, começava a projectar sombras e a desentranhar-se em cores, vagueávamos pelo “Xipangara”, essa outra cidade do caniço que envolve a Beira.
Dos três, era Zeca o único que não dependia senão dele mesmo, num indeterminismo vagabundo que desde sempre foi uma sua segunda natureza, acrescentado da crónica aversão que sentia ou acreditava sentir pela máquina em geral, penso que para melhor defender o seu livre arbítrio. Levava os olhos e o espírito para ver, naquela peculiar e muito pessoal maneira que era a sua de ver as coisas, captando-lhes por debaixo da pele, se assim me posso exprimir, os sinais duma verdade oculta. Via e, claro, cumulativamente, ouvia e registava os sons, o ritmo, a linguagem expressiva dos corpos."
João Afonso dos Santos
foto: João e Zeca
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