Desço a escadaria. Tinha em vista comprar uma coisa para oferecer. A distância do local pretendido não era muita e iria a pé. Chegado ao local verifico que o procurava não havia... Mas sabia que havia uma outra coisa que queria encontrar... um mural com a cara do Zeca e algo mais que não me lembrava o que era. Sabia da existência mas não sabia ao certo onde... e comecei a andar ao acaso.
Vou atravessando a cidade. Vejo o Mercado Municipal e pensava ser ali. Procuro nos muros recentemente caiados e nem vestígios de Zeca.
Continuo. Rua após rua, vão ficando para trás. Vejo a Câmara e nada. Mais quilómetros percorridos, o calor aperta e começo a ficar cansado e desanimado. Chego à zona ribeirinha. Atravessara a cidade de um extremo ao outro. Olho em redor e noto as torres de iluminação de um estádio de futebol. Vou até lá, seria a última tentativa.
Perto de um jardim, reformados vão jogando à malha. Aproximo para os ver. Olho para os muros circundantes... E ali estava o "Zeca".
Ao lado do rosto do Zeca, a letra de "Grândola, Vila Morena", com a particularidade de estar lá a primeira versão enviada a José da Conceição, que a leu publicamente na «Música Velha» na noite de 24 de Maio de 1964, acrescentada com a quadra que substituiu uma das quadras originais.
Deambulo por ali e reparo na placa toponímica encimada num prédio já um pouco distante do local do mural, Avenida Zeca Afonso.
"À sombra não me quito
À sombra não me calo
Antes andar a pé
do que a cavalo" (1)
Fui andarilho na cidade de Portimão, à procura do Zeca. "Tinha-o" encontrado. Ainda tinha muito que andar até onde pernoitava, mas tinha valido a pena.
(1) - Poesia do Zeca - À sombra não que quito - 1959
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