sexta-feira, 30 de dezembro de 2016
quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
Elígeme
Elígeme - pequena sala de concertos em Madrid. (já não existe)
Homenagem a Zeca Afonso
"A propuesta de Luis Pastor, organizamos los lunes (segundas-feiras) de Zeca Afonso. El histórico artista portugués se debatía entre la vida y la muerte, aseguraban muchos que por culpa del aceite de colza. Sea como fuere estaba muy presente en la trayectoria artística y personal de Luis, y a los demás nos entusiasmó la idea. Así nacieron los lunes de Zeca Afonso, con la participación de muchos artistas, algunos fijos, como el propio Luis, Pablo Guerrero, Mosaico, etc., y otros que se acercaban algún día, como Amancio Prada, José Antonio Labordeta, Luis Eduardo Aute, Javier Ruibal, Chicho Sánchez Ferlosio, artistas portugueses invitados, Benedicto… En ese enero importante nos sacan en un estupendo reportaje en el dominical de Diario 16. Y es que la prensa nos hace mucho caso, la verdad es que nos mimaron durante toda la vida del Elígeme, como se puede apreciar en los recortes que conservo. Y aquí no hay presencia de radio, ni de televisión, que también hubo."
A Imprensa espanhola e portuguesa
ABC - 12-1-1987
El País - 12-1-1987
o "Se7e" - 18-2-1987
Homenagem a Zeca Afonso
"A propuesta de Luis Pastor, organizamos los lunes (segundas-feiras) de Zeca Afonso. El histórico artista portugués se debatía entre la vida y la muerte, aseguraban muchos que por culpa del aceite de colza. Sea como fuere estaba muy presente en la trayectoria artística y personal de Luis, y a los demás nos entusiasmó la idea. Así nacieron los lunes de Zeca Afonso, con la participación de muchos artistas, algunos fijos, como el propio Luis, Pablo Guerrero, Mosaico, etc., y otros que se acercaban algún día, como Amancio Prada, José Antonio Labordeta, Luis Eduardo Aute, Javier Ruibal, Chicho Sánchez Ferlosio, artistas portugueses invitados, Benedicto… En ese enero importante nos sacan en un estupendo reportaje en el dominical de Diario 16. Y es que la prensa nos hace mucho caso, la verdad es que nos mimaron durante toda la vida del Elígeme, como se puede apreciar en los recortes que conservo. Y aquí no hay presencia de radio, ni de televisión, que también hubo."
A Imprensa espanhola e portuguesa
ABC - 12-1-1987
El País - 12-1-1987
o "Se7e" - 18-2-1987
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
Zeca Afonso e o Yé-Yé
Zeca refere ao batuque como uma referência musical o que não é de estranhar pois grande parte da vivência de Zeca foi em África, Angola primeiro e depois Moçambique. Em 1966 Zeca era professor em Lourenço Marques (Liceu António Enes), e depois foi transferido para a Beira (Liceu Pero de Anaia).
(temos que nos situar sempre no tempo em que estas declarações do Zeca foram feitas)
José Afonso, in "Plateia", 12 de Abril de 1966
(temos que nos situar sempre no tempo em que estas declarações do Zeca foram feitas)
José Afonso, in "Plateia", 12 de Abril de 1966
terça-feira, 20 de dezembro de 2016
Zeca em 1974 na Fête de l'Humanité (Parc de la Courneuve) - França
(A Festa do Avante teve como modelo inspirador a Fête de l'Humanité" (criada em 1930), que também inspirou a italiana "Festa de ll'Unità" (criada em 1945 e que durou até 1991))
Em setembro de 1974 Zeca Afonso e Luís Cília são convidados a participar neste evento. Com nomes famosos como Leonard Cohen, o grupo The Kinks, a banda chilena Quilapayún, Míkis Theodorákis, o célebre compositor do tema para o filme Zorba, o Grego...
Não há referências nesta festa sobre a atuação do Zeca e do Luís Cília mas na altura foi lançado pelos "les communistes de l'ORTF (L'Office de radiodiffusion-télévision française)" o disco 'Chants De Lutte Et D'Espoir' com livreto, dividido por cantores e poetas de diversos países. Portugal está representado por Zeca com dois temas, o inevitável 'Grândola, Vila Morena' e 'Canta Camarada, Canta'.
O PCP esteve neste evento, como podemos ver nesta pequeno vídeo e a referência em comunicado, da presença do Zeca e Cília nesta festa.
Em setembro de 1974 Zeca Afonso e Luís Cília são convidados a participar neste evento. Com nomes famosos como Leonard Cohen, o grupo The Kinks, a banda chilena Quilapayún, Míkis Theodorákis, o célebre compositor do tema para o filme Zorba, o Grego...
Não há referências nesta festa sobre a atuação do Zeca e do Luís Cília mas na altura foi lançado pelos "les communistes de l'ORTF (L'Office de radiodiffusion-télévision française)" o disco 'Chants De Lutte Et D'Espoir' com livreto, dividido por cantores e poetas de diversos países. Portugal está representado por Zeca com dois temas, o inevitável 'Grândola, Vila Morena' e 'Canta Camarada, Canta'.
O PCP esteve neste evento, como podemos ver nesta pequeno vídeo e a referência em comunicado, da presença do Zeca e Cília nesta festa.
domingo, 11 de dezembro de 2016
Edições 1953 - capas
Os primeiros discos de José Afonso.
- Contos Velhinhos
- Incerteza
- Fado das Águias
- O Sol Anda Lá No Céu
- Contos Velhinhos
- Incerteza
- Fado das Águias
- O Sol Anda Lá No Céu
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
Quinta das Torres - Vila Nogueira de Azeitão
Local onde foi gravado o videoclipe 'Saudades de Coimbra' com Octávio Sérgio e Durval Moreirinhas para a RTP em 1981.
Foi há 35 anos. Ainda lá está, para além da fonte, o lago e o banco de jardim onde foram tiradas as fotos.
Foi há 35 anos. Ainda lá está, para além da fonte, o lago e o banco de jardim onde foram tiradas as fotos.
quinta-feira, 24 de novembro de 2016
«A SUPERSTIÇÃO DE AMÉRICO TOMÁS»
(ou, "Encontro Imprevisto com Zeca Afonso)
---- in "CONTOS & NARRATIVOS DO INSÓLITO"
(...)
O empregado apagara algumas luzes. Aos fundos, na semiobscuridade, dois clientes e duas canecas de cerveja. Sentei-me num tamboril, ao balcão. Desses fundos, interpelaram:
--- Já não se fala aos amigos, pá!
Era o Zeca Afonso. Eu abalara de Coimbra, 1955. Anos mais tarde, encontrara o Zeca em S. Marçal, próximo às instalações da EN, Serviço Ultramarino. A notícia, Salazar caíu da cadeira, assunto entre sílabas: «Os proselitismos, canga a amochá-lo». Agora, no “Paquito”. Levantou-se. Sorriso esplendente, como sempre. O sorriso de há vinte anos:
--- Que fazes, pá? --- Tirara os óculos. Demos um abraço.
--- E tu?
--- Troco as voltas à PIDE, em semiclandestinidades, ---respondeu, melancólico e suave, um dos traços mais vincados da sua sociabilidade inata.
Três dias antes do 1º de Maio, a PIDE montava discreto resguardo aos metros quadrados da permilagem da sua residência, em Setúbal. Um dos agentes chincava a aldraba:
--- Um autógrafo, senhor doutor.
Para a filha. Amiga ou amante. Para a mulher, que a calidez da voz nas “Serenatas de Coimbra”, enraizada em romantismos, a cada mergulho feminino ao ego e às memórias, esplendia à tona:
--- O doutor sabe! --- mas, tão-só, a certificarem que estava em casa e não se pisgaria por clarabóia e telhados, como nas demais vezes. Ai dele! Nem alma, nem memórias de fados e cantares, coiro a apodrecer de vez em Caxias, se lhe aproveitariam.
Respondi:
--- Ultimo a montagem de um equipamento de tradução simultânea. Um Simpósio a inaugurar pelo Américo Tomás, na Gulbenkian.
Zeca Afonso largou uma gargalhada. A de sempre, em momentos de chalaça ou eclosão política:
--- Cuida-te com o champanhe, pá!
--- Ainda te lembras?
(...)
Peguei, então, uma garrafa de champanhe pelo gargalo (deve ter sido o único barco navio (“Capitão José Vilarinho”), até aos hojes, benzido duas vezes e baptizado com duas garrafadas de champanhe) a filha do Tomás a avisar: «Parecem de ferro, força!» e, de um golpe, estilhacei-a no anteparo do palanque. O champanhe derramou-se, salpicou as fímbrias arcebispais, molhou as botinhas rouge, alagoou parte do palanque, Gertrudes aos gritinhos e, por buraco na sola da bota, encharcou-me o coturno: a cada passada, chloque, chloque, os chloques eram motivo ao Américo Tomás, que coçava o nariz. O Neves, em surdina, caçoou: «Bebes champanhe pelos pés, heim!»
(...)
À noite, na gravação “Serenata de Coimbra” a incluir na grelha de programas, mensalmente, o Brojo e o António Portugal no naipe de guitarras e violas, contei o acontecido ao Zeca Afonso, que mangou:
--- Eh, pá! Além de ajudares a dar de comer a um milhão de portugueses, até no buraco da bota és discípulo de Salazar, pá!
(...)
Quisera conversar, de novo, com o Zeca: falarmos da eternidade do pavio e das superstições do Tomás. Mas só o encontrei no último refluxo: o da sua morte, funeral a que o Cavaco Silva, então Primeiro-Ministro, não só não se dignou, como proibiu ministros e secretários de Estado de se dignarem: ateísta e comunista, não é digno!
Ah! Zeca! Os meus olhos aguados, alimentei-os com a poesia dúctil, concreta e ácera dos teus cantares, e alimentá-los-ei até aos ocasos na curvatura da esperança.
Afonso Henriques Ferreira
Daqui:
https://www.facebook.com/afonso.ferreira.9231/posts/334823846678065?__mref=message_bubble
O Livro
---- in "CONTOS & NARRATIVOS DO INSÓLITO"
(...)
O empregado apagara algumas luzes. Aos fundos, na semiobscuridade, dois clientes e duas canecas de cerveja. Sentei-me num tamboril, ao balcão. Desses fundos, interpelaram:
--- Já não se fala aos amigos, pá!
Era o Zeca Afonso. Eu abalara de Coimbra, 1955. Anos mais tarde, encontrara o Zeca em S. Marçal, próximo às instalações da EN, Serviço Ultramarino. A notícia, Salazar caíu da cadeira, assunto entre sílabas: «Os proselitismos, canga a amochá-lo». Agora, no “Paquito”. Levantou-se. Sorriso esplendente, como sempre. O sorriso de há vinte anos:
--- Que fazes, pá? --- Tirara os óculos. Demos um abraço.
--- E tu?
--- Troco as voltas à PIDE, em semiclandestinidades, ---respondeu, melancólico e suave, um dos traços mais vincados da sua sociabilidade inata.
Três dias antes do 1º de Maio, a PIDE montava discreto resguardo aos metros quadrados da permilagem da sua residência, em Setúbal. Um dos agentes chincava a aldraba:
--- Um autógrafo, senhor doutor.
Para a filha. Amiga ou amante. Para a mulher, que a calidez da voz nas “Serenatas de Coimbra”, enraizada em romantismos, a cada mergulho feminino ao ego e às memórias, esplendia à tona:
--- O doutor sabe! --- mas, tão-só, a certificarem que estava em casa e não se pisgaria por clarabóia e telhados, como nas demais vezes. Ai dele! Nem alma, nem memórias de fados e cantares, coiro a apodrecer de vez em Caxias, se lhe aproveitariam.
Respondi:
--- Ultimo a montagem de um equipamento de tradução simultânea. Um Simpósio a inaugurar pelo Américo Tomás, na Gulbenkian.
Zeca Afonso largou uma gargalhada. A de sempre, em momentos de chalaça ou eclosão política:
--- Cuida-te com o champanhe, pá!
--- Ainda te lembras?
(...)
Peguei, então, uma garrafa de champanhe pelo gargalo (deve ter sido o único barco navio (“Capitão José Vilarinho”), até aos hojes, benzido duas vezes e baptizado com duas garrafadas de champanhe) a filha do Tomás a avisar: «Parecem de ferro, força!» e, de um golpe, estilhacei-a no anteparo do palanque. O champanhe derramou-se, salpicou as fímbrias arcebispais, molhou as botinhas rouge, alagoou parte do palanque, Gertrudes aos gritinhos e, por buraco na sola da bota, encharcou-me o coturno: a cada passada, chloque, chloque, os chloques eram motivo ao Américo Tomás, que coçava o nariz. O Neves, em surdina, caçoou: «Bebes champanhe pelos pés, heim!»
(...)
À noite, na gravação “Serenata de Coimbra” a incluir na grelha de programas, mensalmente, o Brojo e o António Portugal no naipe de guitarras e violas, contei o acontecido ao Zeca Afonso, que mangou:
--- Eh, pá! Além de ajudares a dar de comer a um milhão de portugueses, até no buraco da bota és discípulo de Salazar, pá!
(...)
Quisera conversar, de novo, com o Zeca: falarmos da eternidade do pavio e das superstições do Tomás. Mas só o encontrei no último refluxo: o da sua morte, funeral a que o Cavaco Silva, então Primeiro-Ministro, não só não se dignou, como proibiu ministros e secretários de Estado de se dignarem: ateísta e comunista, não é digno!
Ah! Zeca! Os meus olhos aguados, alimentei-os com a poesia dúctil, concreta e ácera dos teus cantares, e alimentá-los-ei até aos ocasos na curvatura da esperança.
Afonso Henriques Ferreira
Daqui:
https://www.facebook.com/afonso.ferreira.9231/posts/334823846678065?__mref=message_bubble
O Livro
sexta-feira, 18 de novembro de 2016
Entre o Porto e Coimbra
O Zeca Afonso que eu conheci
"Vivíamos nós, por essa altura, numa espécie de república, um vasto espaço de três quartos, uma sala e uma cozinha, num terceiro andar no Campo dos Mártires da Pátria (n.º 135), sob a vigilância aflita mas benevolente de uma velhinha, a Sr.ª D. Aninhas. Eram sete os habitantes regulares desses aposentos, mas alturas havia em que o número de comensais chegava a duplicar. (...) um dos frequentadores desse lar aberto era o Zeca. Sempre que as deslocações da Tuna ou do Orfeão Académico de Coimbra, os seus afazeres pessoais ou qualquer decisão repentista, disparada pela sua irrequietude sentimental, o traziam ao norte, lá o tínhamos connosco, com toda a fantasia do seu ser poético e a rebeldia do seu idealismo descomprometido.
Uma das vezes (em vésperas das férias grandes de 1958), a sessão artística da Tuna ia ser no Rivoli. O Zeca apareceu, como de costume e por uma das razões de sempre. Tinha vindo «à boleia», ia cantar, estava à futrica e tinha umas horas para pôr a conversa em dia. Comeu connosco, cantarolou os fados que tencionava interpretar nessa noite — e que o Costa Leite e eu acompanhámos à guitarra —, enfiou a minha capa e batina, completando, assim, o ritual e lá descemos os dois a Rua dos Clérigos, a caminho do Teatro. Ao passarmos em frente da Igreja dos Congregados, num súbito arrebatamento, parou, fitou-me com o ar concentrado que a testa franzida denunciava — era assim sempre que falava a sério — e atirou-me a seguinte proposta: «— Oh pá (ele usava esta abreviatura quando ela era ainda erudita), tu tocas guitarra, eu toco viola e cantamos ambos. Vamos os dois fazer férias por essa Europa fora, como artistas vadios?» Sorri, creio que candidamente, para quebrar com ternura o ímpeto do seu entusiasmo.
Na verdade, não era fácil recusar tão espontânea, sincera e amiga sugestão; mas a minha vocação de aventura tinha asas mais curtas e, além disso, tinha duas cadeiras do meu quinto ano para fazer em Outubro; e as férias iam ser pequenas para pôr o estudo em dia. Sanado este breve desencontro, retomamos a marcha rumo ao Rivoli.
Serafim Guimarães
daqui:
http://www.prof2000.pt/users/secjeste/recortes/musica/zecaafon01.htm
"Vivíamos nós, por essa altura, numa espécie de república, um vasto espaço de três quartos, uma sala e uma cozinha, num terceiro andar no Campo dos Mártires da Pátria (n.º 135), sob a vigilância aflita mas benevolente de uma velhinha, a Sr.ª D. Aninhas. Eram sete os habitantes regulares desses aposentos, mas alturas havia em que o número de comensais chegava a duplicar. (...) um dos frequentadores desse lar aberto era o Zeca. Sempre que as deslocações da Tuna ou do Orfeão Académico de Coimbra, os seus afazeres pessoais ou qualquer decisão repentista, disparada pela sua irrequietude sentimental, o traziam ao norte, lá o tínhamos connosco, com toda a fantasia do seu ser poético e a rebeldia do seu idealismo descomprometido.
Uma das vezes (em vésperas das férias grandes de 1958), a sessão artística da Tuna ia ser no Rivoli. O Zeca apareceu, como de costume e por uma das razões de sempre. Tinha vindo «à boleia», ia cantar, estava à futrica e tinha umas horas para pôr a conversa em dia. Comeu connosco, cantarolou os fados que tencionava interpretar nessa noite — e que o Costa Leite e eu acompanhámos à guitarra —, enfiou a minha capa e batina, completando, assim, o ritual e lá descemos os dois a Rua dos Clérigos, a caminho do Teatro. Ao passarmos em frente da Igreja dos Congregados, num súbito arrebatamento, parou, fitou-me com o ar concentrado que a testa franzida denunciava — era assim sempre que falava a sério — e atirou-me a seguinte proposta: «— Oh pá (ele usava esta abreviatura quando ela era ainda erudita), tu tocas guitarra, eu toco viola e cantamos ambos. Vamos os dois fazer férias por essa Europa fora, como artistas vadios?» Sorri, creio que candidamente, para quebrar com ternura o ímpeto do seu entusiasmo.
Na verdade, não era fácil recusar tão espontânea, sincera e amiga sugestão; mas a minha vocação de aventura tinha asas mais curtas e, além disso, tinha duas cadeiras do meu quinto ano para fazer em Outubro; e as férias iam ser pequenas para pôr o estudo em dia. Sanado este breve desencontro, retomamos a marcha rumo ao Rivoli.
Serafim Guimarães
daqui:
http://www.prof2000.pt/users/secjeste/recortes/musica/zecaafon01.htm
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
Zeca em Coimbra
"O liceu é a dois passos... (...). Há lá uma ladeira e ao cimo da ladeira era a casa da tia Avrilete, um segundo andar. O ambiente era muito conservador: mulheres de escapulário ao pescoço. Proibições... Por baixo vivia uma outra família e por baixo ainda era a mercearia do Sr. Santos".
"Quando havia trovoada a minha tia dizia o magnificat com voz de sibila, aliás, as três mulheres, (...) diziam todas as três o magnificat em três pontos diferentes da sala, cada uma no seu tom".
"(...) tanto ia aos 'Cágados' onde comia ovos à uma da manhã, como passava pelos 'Galifões' ou pelos 'Corsários das Ilhas'. Os 'Cágados' ficavam perto da minha casa, quando vivia no Beco da Carqueja. A parte de trás dava mesmo para o Quebra Costas e para o Gil, (...). Também conheci muita malta da 'Prá-quis-tão' e tive um convívio bastante estreito com os tipos do ´Palácio da Loucura'. De um modo geral convivi com a 'Ai-Ó-Linda' e dava-me muito com o Lobão dos 'Corsários das Ilhas', (...)"
"Uma das que mais frequentou juntamente com o Adriano, foi a Republica do "Bota Abaixo" (Inicialmente estiveram instalados na Rua do Borralho, depois foram transferidos, precisamente por causa das demolições na Alta, para a Rua de S. Salvador nº 6, onde ainda actualmente estão instalados).
"Quando havia trovoada a minha tia dizia o magnificat com voz de sibila, aliás, as três mulheres, (...) diziam todas as três o magnificat em três pontos diferentes da sala, cada uma no seu tom".
"(...) tanto ia aos 'Cágados' onde comia ovos à uma da manhã, como passava pelos 'Galifões' ou pelos 'Corsários das Ilhas'. Os 'Cágados' ficavam perto da minha casa, quando vivia no Beco da Carqueja. A parte de trás dava mesmo para o Quebra Costas e para o Gil, (...). Também conheci muita malta da 'Prá-quis-tão' e tive um convívio bastante estreito com os tipos do ´Palácio da Loucura'. De um modo geral convivi com a 'Ai-Ó-Linda' e dava-me muito com o Lobão dos 'Corsários das Ilhas', (...)"
"Uma das que mais frequentou juntamente com o Adriano, foi a Republica do "Bota Abaixo" (Inicialmente estiveram instalados na Rua do Borralho, depois foram transferidos, precisamente por causa das demolições na Alta, para a Rua de S. Salvador nº 6, onde ainda actualmente estão instalados).
quarta-feira, 16 de novembro de 2016
Zeca Afonso em Coimbra
«Em Coimbra as coisas mudavam lentamente. Novas remessas de estudantes, menos pitorescos mas mais conscientes do que os do meu tempo, mais devotados aos problemas que fatalmente surgiam num meio sufocado por tradição, as mais das vezes inútil, intentam, à semelhança do que já outras gerações haviam feito, romper declaradamente com o bafio, pôr de parte a quinquilharia passadista do velho romantismo do «Penedo», realizar ao nível associativo uma modernização da vida académica dentro dos limites a que os forçava o estreito meio geográfico em que viviam.»
(...)
«Nalgumas andanças por Lisboa tomei esporádico contacto com outros meios estudantis. Rapazes novos, dinâmicos, combativos, de pés bem assentes na terra, com os quais, embora de uma forma efémera, muito me foi dado a aprender. Ganhei amizades, rejuvenesci e sobretudo senti na carne a urgência de alguns problemas que até então mal tinham afectado a minha maneira de ser.
Numa disposição de espírito muito diferente da que me levara a procurar fora de Coimbra uma largueza de horizontes que a cidade me negara, renovei um pouco o meu conhecimento dos homens e dos lugares.»
(...)
«Nalgumas andanças por Lisboa tomei esporádico contacto com outros meios estudantis. Rapazes novos, dinâmicos, combativos, de pés bem assentes na terra, com os quais, embora de uma forma efémera, muito me foi dado a aprender. Ganhei amizades, rejuvenesci e sobretudo senti na carne a urgência de alguns problemas que até então mal tinham afectado a minha maneira de ser.
Numa disposição de espírito muito diferente da que me levara a procurar fora de Coimbra uma largueza de horizontes que a cidade me negara, renovei um pouco o meu conhecimento dos homens e dos lugares.»
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
OS ÍNDIOS DA MEIA-PRAIA II
Os Índios da Meia-Praia
Letra completa deste tema, escrita por José Afonso para o filme "Continuar a Viver ou Os Índios da Meia-Praia" de António da Cunha Teles (1976).
Índios da Meia-Praia * (quadras do filme)
I
Aldeia da Meia-Praia
Ali mesmo ao pé de Lagos
Vou fazer-te uma cantiga
Da melhor que sei e faço
II
De Monte-Gordo vieram
Alguns por seu próprio pé
Um chegou de bicicleta
Outro foi de marcha a ré
III
Houve até quem estendesse
A mão à mãe caridade
Para comprar um bilhete
De passagem prá cidade
IV
Oh mar que tanto forcejas
Pescador de peixe ingrato
Trabalhaste noite e dia
Para ganhares um pataco
V
Quem dera que a gente tenha
De Agostinha a valentia
Para alimentar a sanha
De esganar a burguesia
VI
Diz o amigo no aperto
Pouco ganho, muita léria
Hei-de fazer uma casa
Feita de pau e de pedra
VII
Oito mil horas contadas
Laboraram sem dinheiro (no disco; "Laboraram A PRECEITO)
Até que veio o primeiro
Documento autenticado
VIII
Veio um cheque pelo correio
E alguns pedreiros amigos
Disse o pescador consigo
Só quem trabalha é honrado
IX
Adeus disse a Monte-Gordo
(Nada o prende ao mal passado)
Mas nada o prende ao presente
Se só ele é o enganado
X
Foram "ficando ficando"
Quando um dia um cidadão
Não sei nem como nem quando
Veio à baila a habitação
XI
Mas quem tem calos no rabo
- E isto não é segredo -
É sempre desconfiado
Põe-se atrás do arvoredo
(repete VII - VIII)
XII
Quem aqui vier morar
Não traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constrói uma cabana
XIII
Uma cabana de colmo
E viva a comunidade
Quando a gente está unida
Tudo se faz de vontade
XIII
Tudo se faz de vontade
Mas não chega a nossa voz
Só do mar tem o proveito
Quem se aproveita de nós
XIV
Tu trabalhas todo o ano
Na lota deixam-te mudo
Chupam-te até ao tutano
Levam-te o couro cab'ludo
(repete V - VI)
XV
Vender a praia ao turista
Para jogar na roleta
Vestir a casaca preta
Do malfrão** capitalista
XVI
Foi sempre a tua figura
Tubarão de mil aparas
Deixas tudo à dependura
Quando na presa reparas
XVII
Das eleições acabadas
Do resultado previsto
Saiu o que tendes visto
Muitas obras embargadas
XVIII
Mas não por vontade própria
Porque a luta continua
Pois é dele a sua história
E o povo saiu à rua
XIX
Mandadores de alta finança
Fazem tudo andar p'ra trás
Dizem que o mundo só anda
Tendo à frente um capataz
XX
Eram mulheres e crianças
Cada um c'o seu tijolo
"Isto aqui era uma orquestra"
Quem diz o contrário é tolo
XXI
E toca de papelada
No vaivém dos ministérios
Mas hão-de fugir aos berros
Inda a banda vai na estrada
XXII
E toda a gente interessada
Colaborou a preceito
- Vamos trabalhar a eito
Dizia a rapaziada
XXIII
Não basta pregar um prego
Para ter um bairro novo
Só "unidos venceremos"
Reza um ditado do Povo
(repete XX)
XXIII
E se a má-língua não cessa
Eu daqui vivo não saia
Pois nada abala a nobreza (no disco ABALA passa a APAGA)
Dos índios da Meia-Praia
(a letra do filme termina aqui)
III ***
Quando os teus olhos tropeçam
No voo duma gaivota
Em vez de peixe vê peças
De ouro caindo na lota
Quadras no disco (está por ordem de entrada)
I - II -III*** - XII - XIV - V - IX - VII - XX - XXIII - XVI - XVII - XVIII - XIX - (repete XX) - XXI
*Texto para o filme Os Índios da Meia Praia, realizado por Cunha Teles. Em Portugal, o filme só foi exibido uma vez para a comunidade de pescadores. A versão do disco não inclui todas as quadras.
** Palavra algarvia que significa dinheiro
*** Quadra só utilizada na gravação do tema no álbum.
in José Afonso Textos e Canções
O tema cantado que está no vídeo, foi retirado do filme. As quadras que Zeca gravou para o filme não correspondem, na sua totalidade, às quadras do tema que está no álbum "Com as Minhas Tamanquinhas".
Letra completa deste tema, escrita por José Afonso para o filme "Continuar a Viver ou Os Índios da Meia-Praia" de António da Cunha Teles (1976).
Índios da Meia-Praia * (quadras do filme)
I
Aldeia da Meia-Praia
Ali mesmo ao pé de Lagos
Vou fazer-te uma cantiga
Da melhor que sei e faço
II
De Monte-Gordo vieram
Alguns por seu próprio pé
Um chegou de bicicleta
Outro foi de marcha a ré
III
Houve até quem estendesse
A mão à mãe caridade
Para comprar um bilhete
De passagem prá cidade
IV
Oh mar que tanto forcejas
Pescador de peixe ingrato
Trabalhaste noite e dia
Para ganhares um pataco
V
Quem dera que a gente tenha
De Agostinha a valentia
Para alimentar a sanha
De esganar a burguesia
VI
Diz o amigo no aperto
Pouco ganho, muita léria
Hei-de fazer uma casa
Feita de pau e de pedra
VII
Oito mil horas contadas
Laboraram sem dinheiro (no disco; "Laboraram A PRECEITO)
Até que veio o primeiro
Documento autenticado
VIII
Veio um cheque pelo correio
E alguns pedreiros amigos
Disse o pescador consigo
Só quem trabalha é honrado
IX
Adeus disse a Monte-Gordo
(Nada o prende ao mal passado)
Mas nada o prende ao presente
Se só ele é o enganado
X
Foram "ficando ficando"
Quando um dia um cidadão
Não sei nem como nem quando
Veio à baila a habitação
XI
Mas quem tem calos no rabo
- E isto não é segredo -
É sempre desconfiado
Põe-se atrás do arvoredo
(repete VII - VIII)
XII
Quem aqui vier morar
Não traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra
Se constrói uma cabana
XIII
Uma cabana de colmo
E viva a comunidade
Quando a gente está unida
Tudo se faz de vontade
XIII
Tudo se faz de vontade
Mas não chega a nossa voz
Só do mar tem o proveito
Quem se aproveita de nós
XIV
Tu trabalhas todo o ano
Na lota deixam-te mudo
Chupam-te até ao tutano
Levam-te o couro cab'ludo
(repete V - VI)
XV
Vender a praia ao turista
Para jogar na roleta
Vestir a casaca preta
Do malfrão** capitalista
XVI
Foi sempre a tua figura
Tubarão de mil aparas
Deixas tudo à dependura
Quando na presa reparas
XVII
Das eleições acabadas
Do resultado previsto
Saiu o que tendes visto
Muitas obras embargadas
XVIII
Mas não por vontade própria
Porque a luta continua
Pois é dele a sua história
E o povo saiu à rua
XIX
Mandadores de alta finança
Fazem tudo andar p'ra trás
Dizem que o mundo só anda
Tendo à frente um capataz
XX
Eram mulheres e crianças
Cada um c'o seu tijolo
"Isto aqui era uma orquestra"
Quem diz o contrário é tolo
XXI
E toca de papelada
No vaivém dos ministérios
Mas hão-de fugir aos berros
Inda a banda vai na estrada
XXII
E toda a gente interessada
Colaborou a preceito
- Vamos trabalhar a eito
Dizia a rapaziada
XXIII
Não basta pregar um prego
Para ter um bairro novo
Só "unidos venceremos"
Reza um ditado do Povo
(repete XX)
XXIII
E se a má-língua não cessa
Eu daqui vivo não saia
Pois nada abala a nobreza (no disco ABALA passa a APAGA)
Dos índios da Meia-Praia
(a letra do filme termina aqui)
III ***
Quando os teus olhos tropeçam
No voo duma gaivota
Em vez de peixe vê peças
De ouro caindo na lota
Quadras no disco (está por ordem de entrada)
I - II -III*** - XII - XIV - V - IX - VII - XX - XXIII - XVI - XVII - XVIII - XIX - (repete XX) - XXI
*Texto para o filme Os Índios da Meia Praia, realizado por Cunha Teles. Em Portugal, o filme só foi exibido uma vez para a comunidade de pescadores. A versão do disco não inclui todas as quadras.
** Palavra algarvia que significa dinheiro
*** Quadra só utilizada na gravação do tema no álbum.
in José Afonso Textos e Canções
O tema cantado que está no vídeo, foi retirado do filme. As quadras que Zeca gravou para o filme não correspondem, na sua totalidade, às quadras do tema que está no álbum "Com as Minhas Tamanquinhas".
quinta-feira, 3 de novembro de 2016
quarta-feira, 2 de novembro de 2016
1975 - Registo audio
terça-feira, 1 de novembro de 2016
Os jovens
"Os jovens, e digo, os jovens de todas as classes, estão um pouco à mercê de um sistema que não conta com eles, mas que hipocritamente fala deles - o 25 de abril não foi feito para esta sociedade, para aquilo que estamos agora a viver.
Aqueles que ajudaram a fazer o 25 de abril, imaginaram uma sociedade muito diferente da atual, que está a ser oferecida aos jovens.
Os jovens deparam-se com problemas tão graves, ou talvez mais graves do que aqueles que nós tivemos que enfrentar - o desemprego, por exemplo. E, por vezes, não têm recursos, porque o sistema ultrapassa-os, o sistema oprime-os, criando-lhes uma aparência de liberdade. Eu creio que a única atitude foi aquela que nós tivemos - por nós, eu refiro-me à minha geração - de recusa frontal, de recusa inteligente, se possível até pela insubordinação, se possível até pela subversão do modelo de sociedade que lhes está a ser oferecido, com o fundamento da liberdade democrática, com o fundamento do respeito pelos direitos dos cidadãos. É de facto uma sociedade, que é imposta aos jovens de hoje, teleguiada de longe por qualquer FMI, por qualquer deus banqueiro.
Tal como nós, eles têm que a combater, têm que a destruir, têm de a enfrentar com todas as suas forças, organizando-se para criarem a sociedade que têm em mente.
Entrevista para a RTP em 1984.
Aqueles que ajudaram a fazer o 25 de abril, imaginaram uma sociedade muito diferente da atual, que está a ser oferecida aos jovens.
Os jovens deparam-se com problemas tão graves, ou talvez mais graves do que aqueles que nós tivemos que enfrentar - o desemprego, por exemplo. E, por vezes, não têm recursos, porque o sistema ultrapassa-os, o sistema oprime-os, criando-lhes uma aparência de liberdade. Eu creio que a única atitude foi aquela que nós tivemos - por nós, eu refiro-me à minha geração - de recusa frontal, de recusa inteligente, se possível até pela insubordinação, se possível até pela subversão do modelo de sociedade que lhes está a ser oferecido, com o fundamento da liberdade democrática, com o fundamento do respeito pelos direitos dos cidadãos. É de facto uma sociedade, que é imposta aos jovens de hoje, teleguiada de longe por qualquer FMI, por qualquer deus banqueiro.
Tal como nós, eles têm que a combater, têm que a destruir, têm de a enfrentar com todas as suas forças, organizando-se para criarem a sociedade que têm em mente.
Entrevista para a RTP em 1984.
sábado, 29 de outubro de 2016
Os cantores malditos
“Éramos cantores dos meios proibidos, subterrâneos, não usávamos de qualquer protecção policial. Muitas dessas actuações não se chegavam a realizar, porque as autoridades as proibiam. Em contrapartida, eram entremeadas de episódios que pelos seus reflexos assumiam consequências muito mais importantes do que uma intervenção meramente musical.”
José Afonso
Flama, nº 137 - 17/6/74 - Fernando Cascais
José Afonso
Flama, nº 137 - 17/6/74 - Fernando Cascais
sexta-feira, 28 de outubro de 2016
Festival FolkSong
O Festival a que Zeca Afonso e Rui Pato não foram
"O Primeiro de Janeiro", 04 de Março de 1969
José Afonso não foi ao Festival e terá perdido a possibilidade de conhecer Bob Dylan...
PS - A esta notícia não terá sido alheio o postal que Zeca Afonso enviou a Rui Pato. O Pai de Rui, Rocha Pato, era jornalista de "O Primeiro de Janeiro".
Diria Rui Pato sobre a não ida a este Festival
"A data é de 2 de Março de 1969 e, dado que a crise académica me "retirou da circulação" em Junho... Não compareci e o Zeca também não. Até hoje, estou convencido que foi por solidariedade para com a nossa causa."
daqui:
http://guedelhudos.blogspot.pt/search?q=Jos%C3%A9+Afonso+n%C3%A3o+foi+ao+Festival+e+ter%C3%A1
http://guedelhudos.blogspot.pt/2008/06/zeca-afonso-falha-encontro-com-bob.html
"O Primeiro de Janeiro", 04 de Março de 1969
José Afonso não foi ao Festival e terá perdido a possibilidade de conhecer Bob Dylan...
PS - A esta notícia não terá sido alheio o postal que Zeca Afonso enviou a Rui Pato. O Pai de Rui, Rocha Pato, era jornalista de "O Primeiro de Janeiro".
Diria Rui Pato sobre a não ida a este Festival
"A data é de 2 de Março de 1969 e, dado que a crise académica me "retirou da circulação" em Junho... Não compareci e o Zeca também não. Até hoje, estou convencido que foi por solidariedade para com a nossa causa."
daqui:
http://guedelhudos.blogspot.pt/search?q=Jos%C3%A9+Afonso+n%C3%A3o+foi+ao+Festival+e+ter%C3%A1
http://guedelhudos.blogspot.pt/2008/06/zeca-afonso-falha-encontro-com-bob.html
quinta-feira, 27 de outubro de 2016
Zeca Afonso
Eras igual a nós
Não fora o teu canto,
Mas, ao som da tua voz,
Ruflavam asas...
De amor e pranto.
Ecos, memórias
De lá da infância.
Mundos, quimeras
Dalém distância.
Raiva, ternura...
Flores que brotavam,
Como por graça,
Dum chão de mágoas
Intemporal.
Sede sem taça
De água lustral.
E o peito solto
Como um vela.
As mãos vazias.
O braço dado.
Pés de andarilho
Sem dono ou trela.
Quebrado o encanto,
Ficou a vida.
Mais velha e chã.
Falta o teu canto,
Zeca:
Hino e alerta,
Flor da Manhã!
in "Poemas de fim de dia" inserido no livro "Zeca Afonso - antes do mito" de António dos Santos e Silva
Não fora o teu canto,
Mas, ao som da tua voz,
Ruflavam asas...
De amor e pranto.
Ecos, memórias
De lá da infância.
Mundos, quimeras
Dalém distância.
Raiva, ternura...
Flores que brotavam,
Como por graça,
Dum chão de mágoas
Intemporal.
Sede sem taça
De água lustral.
E o peito solto
Como um vela.
As mãos vazias.
O braço dado.
Pés de andarilho
Sem dono ou trela.
Quebrado o encanto,
Ficou a vida.
Mais velha e chã.
Falta o teu canto,
Zeca:
Hino e alerta,
Flor da Manhã!
in "Poemas de fim de dia" inserido no livro "Zeca Afonso - antes do mito" de António dos Santos e Silva
quarta-feira, 26 de outubro de 2016
O avô Cerqueira
- Descobri recentemente - conta - que sou neto de um gajo, um maçon livre-pensador de Aveiro, um republicano daqueles bigodudos que esteve ligado a um movimento importante de renovação escolar. Chamava-se Domingos José Cerqueira e parece que foi um dos tipos que introduziu o culto da árvore nas escolas. E chegou a fazer uma «cartilha» ("Cartilha Escolar" - 1912 - Livraria Chardron, da Lelo&Irmão), a segunda depois da «Cartilha Maternal» de João de Deus. (1)
José Afonso
Domingos José Cerqueira, avô materno de José Afonso, nasceu em Ponte de Lima (14-4-1870) e morre com 57 anos, em Aveiro por doença (8-12-1927). Exerceu o seu labor profissional no campo do Ensino Primário, foi jornalista e, nesta cidade (Aveiro), iniciou a criação de escolas infantis – as primeiras que existiram em Portugal.
(1) in «As Voltas de Um Andarilho» de Viriato Teles (Assírio & Alvim - 2009)
José Afonso
Domingos José Cerqueira, avô materno de José Afonso, nasceu em Ponte de Lima (14-4-1870) e morre com 57 anos, em Aveiro por doença (8-12-1927). Exerceu o seu labor profissional no campo do Ensino Primário, foi jornalista e, nesta cidade (Aveiro), iniciou a criação de escolas infantis – as primeiras que existiram em Portugal.
(1) in «As Voltas de Um Andarilho» de Viriato Teles (Assírio & Alvim - 2009)
sábado, 22 de outubro de 2016
A margem sul
"A margem sul (entenda-se: do Tejo) era um terreno minado de cumplicidades subterrâneas. O conceito era mais político do que geográfico e, por isso, incluo nele, por minha conta, o Alentejo... com as suas cores dominantes, o verde e loiro dos sentidos (conforme as estações), o vermelho das convicções.
Rui Pato conta, em saborosas lembranças, como se metiam no comboio, Zeca e ele (mais as violas), e viajavam de borla, tendo a pairar sobre as cabeças, como um possível diadema, o beneplácito dos revisores que passavam de uns para aos outros a senha de salvo-conduto. Às vezes por conta da cumplicidade tácita e oculta, traziam de volta propaganda clandestina. Foi assim que em 1967, alguém se achegou a Rui Pato e, à socapa, lhe meteu nas mãos um rolo de exemplares de um jornal cubano que noticiava a morte de Che Guevara (9 de outubro de 1967). - «Para distribuir em Coimbra, camarada», murmurou a voz anónima."
in "José Afonso - Um Olhar Fraterno" de João Afonso dos Santos
Rui Pato conta, em saborosas lembranças, como se metiam no comboio, Zeca e ele (mais as violas), e viajavam de borla, tendo a pairar sobre as cabeças, como um possível diadema, o beneplácito dos revisores que passavam de uns para aos outros a senha de salvo-conduto. Às vezes por conta da cumplicidade tácita e oculta, traziam de volta propaganda clandestina. Foi assim que em 1967, alguém se achegou a Rui Pato e, à socapa, lhe meteu nas mãos um rolo de exemplares de um jornal cubano que noticiava a morte de Che Guevara (9 de outubro de 1967). - «Para distribuir em Coimbra, camarada», murmurou a voz anónima."
in "José Afonso - Um Olhar Fraterno" de João Afonso dos Santos
sexta-feira, 21 de outubro de 2016
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
Casa do Zeca em Monsanto
O irmão João Afonso refere no seu livro "Um olhar fraterno" que Zeca a tinha comprado por 10 contos mas não chegara a lá viver pois a casa já nessa altura não tinha condições de ser habitada. Zeca nunca a recuperou e não chegou a mudar o registo para o seu nome.
1969 - "No decurso da peregrinação Zeca faz o único negócio que se lhe conhece da sua iniciativa. Compra por 10 contos, mediante ajuste verbal e entrega de dinheiro, uma casa tosca e exígua em plena aldeia de Monsanto (sem transmissão de jure)."
Dizia Zeca sobre a razão da compra da casa:
"Porque às vezes é preciso pôr lá fora alguns camaradas e vai servir para os esconder e passarem para Espanha."
A Câmara de Idanha-a-Nova intervenciona recuperando o imóvel por apresentar condições de risco.
No dia 27 de abril de 2014 é descerrada uma placa na casa do Zeca como documenta o plano das Festas.
A intenção era transformar esse espaço em uma casa-museu dedicada ao cantor mas pelo que se vê, nas fotos, não será tão cedo que essa vontade se torne realidade.
Fotos:
Alexandra Cidades
Fátima Régio
1969 - "No decurso da peregrinação Zeca faz o único negócio que se lhe conhece da sua iniciativa. Compra por 10 contos, mediante ajuste verbal e entrega de dinheiro, uma casa tosca e exígua em plena aldeia de Monsanto (sem transmissão de jure)."
Dizia Zeca sobre a razão da compra da casa:
"Porque às vezes é preciso pôr lá fora alguns camaradas e vai servir para os esconder e passarem para Espanha."
A Câmara de Idanha-a-Nova intervenciona recuperando o imóvel por apresentar condições de risco.
No dia 27 de abril de 2014 é descerrada uma placa na casa do Zeca como documenta o plano das Festas.
A intenção era transformar esse espaço em uma casa-museu dedicada ao cantor mas pelo que se vê, nas fotos, não será tão cedo que essa vontade se torne realidade.
Fotos:
Alexandra Cidades
Fátima Régio
quinta-feira, 13 de outubro de 2016
Alfredo de Matos - Por trás daquela janela - manuscrito.
"A 22 de Julho de 1970, Zeca dedicou-me Por Trás Daquela Janela, Poema, por si criado e manuscrito, que posteriormente mo entregou.
Estava eu, então, preso no Forte de Caxias. Foi em Maio daquele ano, no dia 3, que a PIDE assaltou, simultaneamente, no Distrito de Setúbal, de madrugada, oito casas, prendendo oito cidadãos: quatro, em Setúbal – Carlos Lopes, António Gonçalves, Fernando Carlos e Zacarias Fernandes. Um, na Moita – Staline Rodrigues. Um, em Alhos Vedros – Leonel Coelho. Dois, no Barreiro – Álvaro Monteiro e Alfredo de Matos."
Imagens:
Alfredo de Matos na época e o manuscrito do poema
Estava eu, então, preso no Forte de Caxias. Foi em Maio daquele ano, no dia 3, que a PIDE assaltou, simultaneamente, no Distrito de Setúbal, de madrugada, oito casas, prendendo oito cidadãos: quatro, em Setúbal – Carlos Lopes, António Gonçalves, Fernando Carlos e Zacarias Fernandes. Um, na Moita – Staline Rodrigues. Um, em Alhos Vedros – Leonel Coelho. Dois, no Barreiro – Álvaro Monteiro e Alfredo de Matos."
Imagens:
Alfredo de Matos na época e o manuscrito do poema
quarta-feira, 12 de outubro de 2016
Zeca Afonso na Falagueira
Zeca Afonso por Odeith no âmbito da segunda edição do "Conversas na Rua" com o apoio da Câmara Municipal da Amadora.
Local: Rua António Duarte Caneças
Graffiti: Odeith
Fotografia (de 7 a 12out2016):
Catarina Martins
Mário Lima
Música:
"Traz Outro Amigo Também" de José Afonso
Montagem:
Mário Lima
Obra realizada entre 7 a 11 de outubro de 2016
Local: Rua António Duarte Caneças
Graffiti: Odeith
Fotografia (de 7 a 12out2016):
Catarina Martins
Mário Lima
Música:
"Traz Outro Amigo Também" de José Afonso
Montagem:
Mário Lima
Obra realizada entre 7 a 11 de outubro de 2016
terça-feira, 11 de outubro de 2016
José Afonso - Cantares de José Afonso
A 1ª edição de 1964 tinha sido censurada. Em 1969 sai a 2ª edição com uma alteração. O tema "Ó Vila de Olhão" tocada por Rui Pato e cantada pelo Zeca, foi substituida por uma faixa instrumental a cargo do Conjunto de Guitarras de Jorge Fontes.
terça-feira, 4 de outubro de 2016
Grupo "De Outra Margem" canta José Afonso
O Grupo "De Outra Margem" formado por instrumentistas galegos e cantor português, interpretam aqui três temas de José Afonso.
- Os índios da Meia-Praia
- Menino d'Oiro
- As sete mulheres do Minho
- Os índios da Meia-Praia
- Menino d'Oiro
- As sete mulheres do Minho
sábado, 1 de outubro de 2016
Germano Rocha canta José Afonso
Do LP Germano Rocha - Editora: Barclay 86112 Standard - 1965
- No Lago do Breu,
- Vampiros
- Senhor Poeta
- Menino do Bairro Negro
- No Lago do Breu,
- Vampiros
- Senhor Poeta
- Menino do Bairro Negro
quarta-feira, 28 de setembro de 2016
Flávio Rodrigues
Zeca em Coimbra contacta com nomes importantes da vida académica e dos “futricas” (não estudantes), como o mestre guitarrista Flávio Rodrigues (barbeiro de profissão) ou Cristina Matos (cantadeira popular).
"Convivi muito com sociedades de bailaricos. O Flávio Rodrigues era o meu acompanhador predilecto e eu fazia muitos passeios, ia cantar a catequeses, e se não era a catequeses era a outro sítio qualquer (aliás, eu não distinguia entre cantar para catequeses e cantar para bailaricos)."
O velho Flávio, "Flávio da guitarra" como era conhecido, era o "Mestre", venerado por um pequeno discipulado de guitarristas e acompanhadores que com ele se reuniam numa pequena casa do bairro de Celas.
Viveu inicialmente na Rua dos Militares e mais tarde, por força do camartelo, foi viver para o Bairro de Celas. Aí acabou os seus dias minado por uma doença fatal.
Fontes:
Flavio Rodrigues - Diário "As Beiras de 24-11-2006 - Manuel Dias
José Niza: José Afonso - edição Movieplay
Visão: Zeca Afonso: 'Sou um homem comum'
"Convivi muito com sociedades de bailaricos. O Flávio Rodrigues era o meu acompanhador predilecto e eu fazia muitos passeios, ia cantar a catequeses, e se não era a catequeses era a outro sítio qualquer (aliás, eu não distinguia entre cantar para catequeses e cantar para bailaricos)."
O velho Flávio, "Flávio da guitarra" como era conhecido, era o "Mestre", venerado por um pequeno discipulado de guitarristas e acompanhadores que com ele se reuniam numa pequena casa do bairro de Celas.
Viveu inicialmente na Rua dos Militares e mais tarde, por força do camartelo, foi viver para o Bairro de Celas. Aí acabou os seus dias minado por uma doença fatal.
Fontes:
Flavio Rodrigues - Diário "As Beiras de 24-11-2006 - Manuel Dias
José Niza: José Afonso - edição Movieplay
Visão: Zeca Afonso: 'Sou um homem comum'
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