sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Zeca e a Imprensa moçambicana - 1982

Durante a sua permanência em Moçambique em 1982 a convite da FRELIMO, onde atuou em várias cidades com o Janita, Serginho e Júlio Pereira, Zeca foi entrevistado por diversos órgãos de informação. No Notícias do Maputo dizia Zeca:

«Quero endereçar as minhas saudações fraternais a todas as pessoas aqui em Moçambique. Quero, sinceramente, que esta Revolução difícil, mas que conta com a participação popular, chegue a bom termo; não isoladamente, mas com o apoio de outros países africanos e de outros países que não aceitam o imperialismo. Pela nossa parte tentaremos em Portugal também dar o nosso apoio»

Graça Machel, aquando a visita de Samora Machel Presidente de Moçambique a Portugal em 1983, apresenta Zeca Afonso ao marido, recordando que ele fora seu professor no Liceu António Enes (ex-Lourenço Marques, hoje Maputo). Samora Machel agradece ao cantor a sua acção docente em Moçambique.

Zeca pensou mais tarde regressar a Moçambique o que não veio a acontecer.

fonte: Livra-te do Medo de José A. Salvador

Foto: Entrevista à revista Tempo em Maputo (do arquivo de Júlio Pereira)

Moçambique 1982

Zeca Afonso

"Se houve alguma coisa em África que me marcou definitivamente foi a realidade colonial"

Mia Couto - Escritor

Professor de Geografia de Mia Couto no Liceu Pêro de Anaia (14-9-1965 a 30-7-1966), na cidade da Beira, José Afonso é lembrado pelo antigo aluno como "uma pessoa muito anti-formal"

"Era uma pessoa muito fora do contexto, muito anti-formal. Já nessa altura andava de calções de caqui na sala de aulas". "Foi a ele que ouvi dizer pela primeira vez a palavra colonialista, ao insurgir-se contra alguém". "Como professor, não se limitava à matéria de Geografia. Era um grande professor da vida"

Kok Nam - fotojornalista moçambicano (acompanhou Zeca Afonso nos espetáculos que este deu na Beira e em Tete em 1982. No Expresso refere mal, os anos 1983-84)

Zeca Afonso era "uma pessoa muito interessante" e que "cantava muito bem".

"Apesar de ter prestígio internacional, era uma pessoa muito simples. O Zeca (Afonso) tinha essa particularidade. Não era um homem orgulhoso, que exibisse os seus galões. Raramente falava na primeira pessoa; era sempre em termos colectivos"

"Tornámo-nos amigos. Fui visitá-lo duas ou três vezes a Portugal, mas fiquei muito impressionado da última vez que estivemos juntos, quando ele já estava muito doente", adiantou.

Depois do almoço, José Afonso ainda foi dar um passeio, amparado pelos amigos, mas Kok Nam não registou nenhuma imagem deste último encontro.
"Não quis reter esta imagem, porque quero lembrar-me do Zeca como ele era, uma pessoa cheia de vida", justificou.

Daqui:

http://arquivo.expresso.pt/jose-afonso-actividade-anticolonial-causou-lhe-problemas-com-a-pide-mia-couto=f528848

Fotos do arquivo de Júlio Pereira

Queima das Fitas - 1952

Versos enviados a Zeca pelo pai, para o livro da Queima das Fitas de 1952.

«Que a sorte esquiva te fade
Da sina de bem viver
Mas uma sina que há-de
Ser por ti bem esculpida
Na carne e sangue da vida
Filha da tua vontade
Obra só do teu querer
Pois qual tábua perdida
Voltar-se, inerme, ao destino
E conjurar a Ventura
Não é táctica segura
Não passa de jogo vão,
Como a estrela de papel
Que (eras tu moço e menino)
Presa à ponta dum cordel
Soltavas da tua mão
... E ora ia ao alto a pino
Ora caía no chão...»

fonte: José Afonso - Um Olhar Fraterno de João Afonso dos Santos

Zeca SuperStar

"Sou um homem comum e não quero que me transformem numa vedeta"

Zeca Afonso
(em Cena 7, do vespertino A Capital, em 26 de Dezembro de 1970)

No final da ditadura, mas também após o 25 de abril de 1974, Zeca foi alvo de criticas desencontradas e contraditórias mesmo por certos setores da imprensa considerados esquerdistas.

Sobre o álbum "Venham mais cinco" (1973) Teresa Botelho na revista "r&t" de 5 de Janeiro de 1974 criticava o disco dizendo que Zeca tinha incorrido no «erro de extremamente inclinado a construções de frases bonitas de ouvir, mas difíceis de compreender» «se ele visse com atenção como o público que, em princípio, lhe interessaria, reage perante algo claro e directo, como «A Morte Saiu à Rua» e perante o confuso «Venham Mais Cinco» talvez pensasse duas vezes, se é o que quer fazer».

Certo é que o que esta crítica de discos considerava confuso foi um tema que ficou na nossa memória coletiva. O povo não era tão estúpido como Teresa o fazia.

Mesmo após o 25 de abril uns consideravam Zeca «panfletário», outros de pretensa excessiva elaboração de certos poemas, como foi dito por José Mário Branco, que Zeca estaria a enveredar por um «certo poetismo, um certo hermetismo das letras».

Outras críticas que habitualmente recebia era de que estaria a enveredar por um certo vedetismo. Na Revista Musicalíssimo de 12 de abril de 1974, saiu em capa, Zeca Afonso vestido de Super-Homem, com o título «Zeca Afonso superstar». Em artigo, Viale Moutinho escrevia que Zeca fora erigido como vedeta pela «esquerda», não faltando quem o utilizasse «como porta-estandarte da sua própria luta intestinal». Noutro artigo na revista José Ribamar lembrou que o cantor era o próprio «anti-espetáculo», rebatendo por outro lado as críticas de hermetismo que lhe faziam.

Certo é que Zeca ultrapassou tudo isto, com muitos dissabores sim, mas sempre igual a si próprio. Nem vedeta nem hermético, mas como um homem comum como todos nós.

Fonte: Fotobiografias do século XX de Irene Flunser Pimentel

"Bombons de Todos os Dias"

Não editado em disco. Som remasterizado.

Extraído do vídeo de Mínia Garcia, do recital de José Afonso em Santiago de Compostela, a 10 de maio de 1972.

Este tema foi gravado em casa do Benedicto Garcia Villar, enquanto o Zeca ensaiava.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Fado d'Anto

A cabra da velha torre,
Meu amor, chama por mim;
Quando um estudante morre,
Os sinos tocam assim.

Ai quem me dera abraçar-te,
Junto ao peito assim, assim,
Levar-me a morte e levar-te
Toda abraçadinha a mim.


Luís Góis

Luís Góis ou Luís Goes, foi colega de José Afonso (mas não do mesmo ano pois Zeca nasceu em 1929 e Góis em 1933) e de António Portugal no liceu D. João III, de Coimbra, e com eles chegou a integrar o conjunto de António Brojo, um artista de décadas anteriores que continuava a ser uma referência incontornável para as gerações mais novas e que pensavam a canção de Coimbra de uma forma mais evoluída.

Daqui:

http://www.macua.org/biografias/luisgoes.html

Tal como Zeca em 1952, Luis Goes (assim como Fernando Rolim) gravou dois discos de 78 rpm, tendo sido todos eles editados em 1953.

O original de um dos discos e os temas.