quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

"Vira de Coimbra"

Na discografia do Zeca, o "Vira de Coimbra" faz parte de dois discos: EP "Balada do Outono" - 1960 e do LP "Fado de Coimbra e outras canções" - 1981, com quadras distintas entre estes dois discos.

Em ambos aparece como popular o autor da música e letra deste "Vira". Mas no EP de 1960 uma das quadras não é popular. A 4ª quadra é de um poeta bem conhecido, António Nobre.

Vira de Coimbra de 1960

(1ª)
Dizem que amor de estudante
Não dura mais que uma hora
Só o meu é tão velhinho
Inda se não foi embora.
(2ª)
Coimbra pra ser Coimbra
Três coisas há-de contar
Guitarras, tricanas lindas,
Capas negras a arejar
(3ª)
Ó Portugal trovador
Ó Portugal das cantigas
A dançar tu dás a roda
A roda co'as raparigas
(4ª)
Vou encher a bilha e trago-a
Vazia como a levei
Mondego qu'é da tu'água
qu'é dos prantos que eu chorei.


A última quadra, está no seu livro de poemas "Só" (1890).

"Vou encher a bilha e trago-a
Vazia como a levei
Mondego qu'é da tu'água
qu'é dos prantos que eu chorei
."


É a sétima quadra do poema, “Para as raparigas de Coimbra”.

(1ª)
"Tristezas têm-nas os montes,
Tristezas têm-nas o Céu,
Tristezas têm-nas as fontes,
Tristezas tenho-as eu!
(2ª)
O choupo magro e velhinho,
Corcundinha, todo aos nós,
És tal qual meu Avôzinho:
Falta-te apenas a voz.
(3ª)
Minha capa vos acoite
Que é para vos agazalhar:
Se por fora é côr da noite,
Por dentro é côr do luar …
(4ª)
Ó sinos de Santa Clara,
Por quem dobraes, quem morreu?
Ah, foi-se a mais linda cara
Que houve debaixo do Céu!
(5ª)
A sereia é muito arisca,
Pescador, que estás ao Sol:
Não cae, tolinho, a essa isca …
Só pondo uma flor no anzol!
(6ª)
A Lua é a hostia branquinha,
Onde está Nosso Senhor:
É duma certa farinha
Que não apanha bolor.
(7ª)
Vou a encher a bilha e trago-a
Vazia como a levei!
Mondego, q’ué da tua agoa,
Q’ué dos prantos que eu chorei
?


...

Coimbra, 1890."

Esta mesmo quadra faz parte do "Fado d'Anto" (3ª) musicado e cantado por Francisco Menano e poema de António Nobre (Zeca Afonso no seu "Fado d'Anto" só canta duas destas quadras por esta ordem, 5ª e 4ª)

(1ª)
"Meninas, lindas meninas !
Qual de vós é o meu ideal ?
Meninas , lindas meninas
Do Reino de Portugal !
(2ª)
Minha capa vos acoite,
Que é p'ra vos agasalhar;
Se por fora é côr de noite,
Por dentro é côr do luar ...
(3ª)
Vou encher a bilha e trago-a
Vasia como a levei !
Mondego, que é da tua água
Que é dos prantos que chorei?

(4ª)
Ó quem me dera abraçar-te,
Contra o peito assim, assim,
Levar-me a morte e levar-te
Toda abraçadinha a mim.
(5ª)
A cabra da velha Torre,
Meu amor, chama por mim;
Quando um estudante morre,
Os sinos chamam, assim.
(6ª)
Ó sinos de Santa Clara,
Por quem dobraes, quem morreu ?
Ah, foi-se a mais linda cara
Que houve debaixo do Céu!"

(o português que está nos poemas, é o português original da época em que estes poemas foram concebidos)

Assim podemos considerar que no "Vira de Coimbra" de Zeca Afonso, as 1ª, 2ª e 3ª quadra são de autor desconhecido (por enquanto) mas a 4ª tem um nome e esse é António Nobre.

Existe esta placa em Coimbra (Parque Manuel Braga) onde podemos certificar a autoria do poema.


O poema de António Nobre declamado por Luís Gaspar



Fontes:

Penedo da Saudade
Estúdio Raposa
Natura di uminho

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