sábado, 21 de fevereiro de 2015

1970 - "la Chanson de Combat Portugaise"

Maison de la Mutualité em Paris.

A 10 de novembro de 1970, Zeca participa, com Sérgio Godinho, José Mário Branco, Luís Cília e o Trio Portugal, num espetáculo na “Mutualité”, sala mítica de Paris, em que é confrontado com um folheto de extremistas de esquerda, distribuído à entrada, o qual questiona a postura política de alguns cantores, nomeadamente José Afonso, Tino Flores e Luís Cília, e que o acusa de ser colaborante com o sistema e de, com isso, conseguir viver em Portugal e continuar a gravar discos.




No concerto Luis Cília precede-o e é o primeiro a cantar na segunda parte. Cília foi provocado e o mesmo veio a acontecer em seguida com Zeca, tendo a sessão sido interrompida.

José Afonso não se contém e desafia os opositores, espalhados pela sala, apostados em boicotar o concerto: “Quanto ao tal papel, estou disposto a fornecer indicações mais diretas àqueles que esperam que os cantores façam a revolução enquanto eles estão sentados, talvez no Café Luxemburgo.”

Aos aplausos seguem-se algumas “bocas”, a que Zeca responde: “Ó pá não vejo a tua cara, pá. Je vois pas ton visage. Tu vois le mien, non?”, o que gera confrontos físicos no público.

Diria Zeca, anos mais tarde, a José A. Salvador (in livro “Livra-te do Medo”)

«Recordo-me que uma vez, em Paris, fui completamente ridicularizado por um grupinho. Não sei qual era (*)… Distribuiram uns panfletos bílingues que começavam assim: “Chora, camarada, Chora.” Tais indivíduos não sabiam sequer analisar a música e muito menos os textos. Grande parte das minhas canções eram de origem popular, “Lá vai Jeremias” e tantas outras. Os tipos achavam que eu era um choramingão como todos os cantores burgueses.»

(*) era um grupo dissidente do PCP (ml) de Heduíno Gomes mais conhecido por Vilar. Heduíno Gomes mais tarde aderiu ao PSD e é marido da cantora Ana Faria. Como diz o José Mário Branco “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”.

Fontes:

Vídeos:

– extrato do documentário “Maior que o Pensamento” de Joaquim Vieira (2ª parte – Combate), onde testemunham alguns cantores que estiveram presentes nesse concerto.


- extrato do vídeo da participação de Luís Cília, com duas das canções: "Dez reis de esperança" e "Portugal Resiste". Neste extrato, pode-se ouvir a provocação, a resposta de Luís Cília e a apresentação de José Afonso como intérprete seguinte.


Imagens do panfleto daqui:

issuu

Textos:

Município de Setúbal

Palco Principal

- Livro “Livra-te do Medo” de José A. Salvador

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