sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Zeca e a Imprensa moçambicana - 1982

Durante a sua permanência em Moçambique em 1982 a convite da FRELIMO, onde atuou em várias cidades com o Janita, Serginho e Júlio Pereira, Zeca foi entrevistado por diversos órgãos de informação. No Notícias do Maputo dizia Zeca:

«Quero endereçar as minhas saudações fraternais a todas as pessoas aqui em Moçambique. Quero, sinceramente, que esta Revolução difícil, mas que conta com a participação popular, chegue a bom termo; não isoladamente, mas com o apoio de outros países africanos e de outros países que não aceitam o imperialismo. Pela nossa parte tentaremos em Portugal também dar o nosso apoio»

Graça Machel, aquando a visita de Samora Machel Presidente de Moçambique a Portugal em 1983, apresenta Zeca Afonso ao marido, recordando que ele fora seu professor no Liceu António Enes (ex-Lourenço Marques, hoje Maputo). Samora Machel agradece ao cantor a sua acção docente em Moçambique.

Zeca pensou mais tarde regressar a Moçambique o que não veio a acontecer.

fonte: Livra-te do Medo de José A. Salvador

Foto: Entrevista à revista Tempo em Maputo (do arquivo de Júlio Pereira)

Moçambique 1982

Zeca Afonso

"Se houve alguma coisa em África que me marcou definitivamente foi a realidade colonial"

Mia Couto - Escritor

Professor de Geografia de Mia Couto no Liceu Pêro de Anaia (14-9-1965 a 30-7-1966), na cidade da Beira, José Afonso é lembrado pelo antigo aluno como "uma pessoa muito anti-formal"

"Era uma pessoa muito fora do contexto, muito anti-formal. Já nessa altura andava de calções de caqui na sala de aulas". "Foi a ele que ouvi dizer pela primeira vez a palavra colonialista, ao insurgir-se contra alguém". "Como professor, não se limitava à matéria de Geografia. Era um grande professor da vida"

Kok Nam - fotojornalista moçambicano (acompanhou Zeca Afonso nos espetáculos que este deu na Beira e em Tete em 1982. No Expresso refere mal, os anos 1983-84)

Zeca Afonso era "uma pessoa muito interessante" e que "cantava muito bem".

"Apesar de ter prestígio internacional, era uma pessoa muito simples. O Zeca (Afonso) tinha essa particularidade. Não era um homem orgulhoso, que exibisse os seus galões. Raramente falava na primeira pessoa; era sempre em termos colectivos"

"Tornámo-nos amigos. Fui visitá-lo duas ou três vezes a Portugal, mas fiquei muito impressionado da última vez que estivemos juntos, quando ele já estava muito doente", adiantou.

Depois do almoço, José Afonso ainda foi dar um passeio, amparado pelos amigos, mas Kok Nam não registou nenhuma imagem deste último encontro.
"Não quis reter esta imagem, porque quero lembrar-me do Zeca como ele era, uma pessoa cheia de vida", justificou.

Daqui:

http://arquivo.expresso.pt/jose-afonso-actividade-anticolonial-causou-lhe-problemas-com-a-pide-mia-couto=f528848

Fotos do arquivo de Júlio Pereira

Queima das Fitas - 1952

Versos enviados a Zeca pelo pai, para o livro da Queima das Fitas de 1952.

«Que a sorte esquiva te fade
Da sina de bem viver
Mas uma sina que há-de
Ser por ti bem esculpida
Na carne e sangue da vida
Filha da tua vontade
Obra só do teu querer
Pois qual tábua perdida
Voltar-se, inerme, ao destino
E conjurar a Ventura
Não é táctica segura
Não passa de jogo vão,
Como a estrela de papel
Que (eras tu moço e menino)
Presa à ponta dum cordel
Soltavas da tua mão
... E ora ia ao alto a pino
Ora caía no chão...»

fonte: José Afonso - Um Olhar Fraterno de João Afonso dos Santos

Zeca SuperStar

"Sou um homem comum e não quero que me transformem numa vedeta"

Zeca Afonso
(em Cena 7, do vespertino A Capital, em 26 de Dezembro de 1970)

No final da ditadura, mas também após o 25 de abril de 1974, Zeca foi alvo de criticas desencontradas e contraditórias mesmo por certos setores da imprensa considerados esquerdistas.

Sobre o álbum "Venham mais cinco" (1973) Teresa Botelho na revista "r&t" de 5 de Janeiro de 1974 criticava o disco dizendo que Zeca tinha incorrido no «erro de extremamente inclinado a construções de frases bonitas de ouvir, mas difíceis de compreender» «se ele visse com atenção como o público que, em princípio, lhe interessaria, reage perante algo claro e directo, como «A Morte Saiu à Rua» e perante o confuso «Venham Mais Cinco» talvez pensasse duas vezes, se é o que quer fazer».

Certo é que o que esta crítica de discos considerava confuso foi um tema que ficou na nossa memória coletiva. O povo não era tão estúpido como Teresa o fazia.

Mesmo após o 25 de abril uns consideravam Zeca «panfletário», outros de pretensa excessiva elaboração de certos poemas, como foi dito por José Mário Branco, que Zeca estaria a enveredar por um «certo poetismo, um certo hermetismo das letras».

Outras críticas que habitualmente recebia era de que estaria a enveredar por um certo vedetismo. Na Revista Musicalíssimo de 12 de abril de 1974, saiu em capa, Zeca Afonso vestido de Super-Homem, com o título «Zeca Afonso superstar». Em artigo, Viale Moutinho escrevia que Zeca fora erigido como vedeta pela «esquerda», não faltando quem o utilizasse «como porta-estandarte da sua própria luta intestinal». Noutro artigo na revista José Ribamar lembrou que o cantor era o próprio «anti-espetáculo», rebatendo por outro lado as críticas de hermetismo que lhe faziam.

Certo é que Zeca ultrapassou tudo isto, com muitos dissabores sim, mas sempre igual a si próprio. Nem vedeta nem hermético, mas como um homem comum como todos nós.

Fonte: Fotobiografias do século XX de Irene Flunser Pimentel

"Bombons de Todos os Dias"

Não editado em disco. Som remasterizado.

Extraído do vídeo de Mínia Garcia, do recital de José Afonso em Santiago de Compostela, a 10 de maio de 1972.

Este tema foi gravado em casa do Benedicto Garcia Villar, enquanto o Zeca ensaiava.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Fado d'Anto

A cabra da velha torre,
Meu amor, chama por mim;
Quando um estudante morre,
Os sinos tocam assim.

Ai quem me dera abraçar-te,
Junto ao peito assim, assim,
Levar-me a morte e levar-te
Toda abraçadinha a mim.


Luís Góis

Luís Góis ou Luís Goes, foi colega de José Afonso (mas não do mesmo ano pois Zeca nasceu em 1929 e Góis em 1933) e de António Portugal no liceu D. João III, de Coimbra, e com eles chegou a integrar o conjunto de António Brojo, um artista de décadas anteriores que continuava a ser uma referência incontornável para as gerações mais novas e que pensavam a canção de Coimbra de uma forma mais evoluída.

Daqui:

http://www.macua.org/biografias/luisgoes.html

Tal como Zeca em 1952, Luis Goes (assim como Fernando Rolim) gravou dois discos de 78 rpm, tendo sido todos eles editados em 1953.

O original de um dos discos e os temas.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Rui Pato - Testemunhos de uma vida

Rui Pato com Zeca Afonso


Rui Pato com Zeca Afonso



Rui de Melo Pato nasceu em Coimbra a 5 de junho de 1946. Tinha Rui Pato 16 anos quando começou a acompanhar à viola Zeca Afonso. Participou com Zeca em 7 discos durante 7 anos (1962-69). Foi um acaso que levou Rui até Zeca. Depois da morte do pai, Zeca chega a Coimbra vindo do Algarve. Queria mostrar novas músicas aos amigos e pediu uma viola, no «Brasileira». O pai de Rui Pato (o jornalista Rocha Pato), diz:



«Só se formos a minha casa: o meu filho anda a aprender guitarra clássica e podes tocar com a viola dele». Assim aconteceu mas, pouco depois, Rui estava a acompanhar o Zeca e este entusiasmado disse: «É este puto que vai gravar comigo»



Rui Pato gravou três EP, três LP e um single, num total de 50 temas. Rui Pato foi proibido pela PIDE a deslocar-se a Londres em 1969 para gravar o álbum "Traz Outro Amigo Também", devido à sua participação na Crise Académica de 1969. Neste álbum Rui Pato foi substituído por Carlos Correia (Bóris)



Fonte: "Canto de Intervenção" de Eduardo M. Raposo



As noites de canções com Salgueiro Maia:



(clicar no play)
O despertar: "Só tive consciência do perigo e da importância de tudo aquilo que estávamos a fazer um ano depois de já estar com ele. Quando comecei, em 1962, não me tinha apercebido da importância de todas aquelas canções e daquilo que o futuro nos reservava", recorda. Estava, sem saber, talvez pela aventura da idade, a entrar numa luta: "Era um combate contra a censura, o regime, os preconceitos e todos aqueles que achavam que era estranho que a música pudesse servir de arma". A Censura: "A liberdade, escondida entre versos, valeu-lhe a atenção da PIDE. Começou a ser vigiado, foi expulso da Universidade e obrigado a entrar para o serviço militar coercivo. "Era quase uma forma de guerrilha artística, e eu, como se poderia dizer, dei o peito às balas", conta. Alguns lugares das plateias começaram a ser preenchidos por agentes da polícia política e a censura prévia tornou-se habitual. ..."Aos mecanismos mais intensos de repressão, respondiam as requintadas ironias. A liberdade não era para o ouvido de todos. "Há relatos dos censores e até de agentes da Direção Geral dos Espetáculos, que estão na Torre do Tombo, que faziam relatos perfeitamente ridículos. Não percebiam muitas das coisas. Lembro-me de tocarmos os 'Vampiros', das primeiras vezes, e eles pensarem que estávamos a falar mesmo dos bichos". Fonte:JPN Parte de uma gravação realizada pelo programa "Violas e Vozes de Abril" onde Rui Pato fala de Zeca e Adriano Correia de Oliveira. Mais sobre Rui Pato (clicar aqui)

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Zeca em Moçambique - 1982

«Em nome do Governo, são bem-vindos! Estão em vossa casa.»

Foi com estas palavras que as autoridades de Moçambique receberam José Afonso e os seus companheiros (a mulher Zélia, Serginho, Júlio Pereira e Janita Salomé), em abril de 1982.

«O Zeca», diz Júlio Pereira, «andou sempre bem disposto, e a própria recepção com flores e abraços foi de algum modo o reconhecimento da FRELIMO pelo que José Afonso fez em Moçambique quando lá esteve nos anos sessenta. Foi o período em que vi o Zeca mais feliz»

Durante um mês Zeca e os companheiros, deram vários concertos na capital, Beira, Tete e nos Songo (Cabora Bassa) com as salas sempre cheias.



Fonte: "Livra-te do Medo" de José A. Salvador

Foto do arquivo de Júlio Pereira.




sábado, 21 de novembro de 2015

Alípio de Freitas canta Zeca Afonso

Álbum "Co'as Tamanquinhas do Zeca!" dos Couple Coffee - Reedição 2014


"Traz outro amigo também" conta com a voz do próprio Alípio de Freitas que, nascido em Vinhais, em 1929, deixa ali impresso o seu sotaque transmontano e altivo. Luanda (filha de Alípio de Freitas) conta, agora, como correu a experiência:

“Pôr o meu pai a cantar não foi nada difícil. Há uns dois anos que estávamos com essa ideia, mas fomos enrolando. Estas duas músicas tinham ficado de fora do disco ("Co’as Tamanquinhas do Zeca!", álbum editado em Abril de 2007), "Alípio de Freitas" por aqueles motivos todos e "Traz outro amigo também" porque foi uma música em que eu não queria mexer. Porque, para mim, ‘aqueles que ficaram’ são os que ficaram pelo caminho. Estou cercada de defuntos, enfim. Mas achei que agora era a hora dessa canção, propus ao meu pai e ele foi profissionalíssimo, 40 minutos de estúdio e gravou tudo, cantando, falando deu uma alegria, uma dignidade à canção. Quisemos deixar a forma como ele fala, o timbre muito transmontano, ficou muito lindo assim.”


segunda-feira, 16 de novembro de 2015

«Os dois Zés, o Afonso e o do Telhado»

Testemunho de Hélder Costa - Encenador e diretor artístico do grupo "A Barraca"

Como Hélder Costa "convenceu" Zeca a escrever os temas para a peça "Zé do Telhado".

Músicas para o Zé do Telhado no álbum Fura-Fura.

"Quanto é doce - as sete mulheres do minho - o cabral fugiu para a espanha - de quem foi a traição - quem diz que é pela rainha - na catedral de lisboa."


O cartaz da época

A Barraca conta : Zé do Telhado - 1978 - Teatro

Texto do cartaz: Texto de Helder Costa; Música de Zeca Afonso; Cenografia de João Brites; Encenação de Augusto Boal; António Cara d'Anjo, João Maria Pinto, João Soromenho, Luís Lello, Manuel Marcelino, Margarida Carpinteiro, Maria do Céu Guerra, Mário Viegas, Orlando Costa, Paula Guedes, Santos Manuel.

Subsidiado pela Secretaria de Estado da Cultura

http://sinbad.ua.pt/cartazes/CT-ML-II-3638


Vídeo - Quanto é doce

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Biografia resumida - Conclusão

1953 - 24 anos - Tropa - Mafra (Agosto de 1953) Em 53 nasceram os dois filhos de Zeca, José Manuel (18 de janeiro, foi padrinho Carlos Couceiro) e Helena (29 de dezembro). São editados pela Alvorada, os seus dois primeiros singles em 78rpm (com o título genérico de "Fados de Coimbra", gravados em 1952, no Emissor Regional de Coimbra da Emissora Nacional, com os músicos António Brojo, António Portugal, Aurélio Reis e Mário de Castro). Devido a dificuldades financeiras, dá explicações e revê provas do Diário de Coimbra.
1954 - Tropa - Coimbra (Janeiro de 1954)
1955 - o filho José Manuel, vai de encontro dos avós a residirem em Lourenço Marques.
1956 - Baixa na tropa (14 de janeiro de 56 - Estava mobilizado para Macau). Regresso do filho José Manuel por ocasião do gozo de licença do avô. Inicia-se o processo de separação da mulher Maria Amália.
1957 - Professor num colégio privado, Colégio de São José, em Mangualde (6-1-1957 a 30-9-1957, dava aulas de História e Filosofia). Professor provisório da Escola Industrial e Comercial de Lagos (28-10-1957 a 22-7-1958).
Atua em Paris, no Teatro "Champs Elysées" ao lado de Fernando Rolim, voz, António Portugal e David Leandro nas guitarras de Coimbra, e Sousa Rafael e Levy Baptista nas violas (4 de dezembro de 1957)
1958 - Professor provisório da Escola Industrial e Comercial de Faro (7-10-1958 a 18-7-1959)
1959 - No início do ano lectivo 1959/1960 está 10 dias em Aljustrel (Setembro de 1959) e depois transita para a Escola Técnica de Alcobaça (3 de outubro de 1959). Digressão com a 'Tuna Académico da Universidade de Coimbra' durante um mês a Angola
1960 - É editado o EP "Balada do Outono" e o EP "Coimbra" (gravado em 1956). Professor Escola Industrial e Comercial de Faro (17-10-1960 a 25-7-1961). Nova digressão com o Orfeão Académico de Coimbra a Angola (Agosto de 1960). Desloca-se a Genebra, onde com Fernando Rolim, voz, António Portugal e David Leandro nas guitarras e Coimbra, e Sousa Rafael e Levy Baptista nas violas, grava uma serenata para a Eurovisão.
1961 - Conhece Maria Zélia Agostinho, natural da Fuzeta. Licencia-se em História-Filosóficas (3 de novembro).
1962 - Professor Escola Industrial e Comercial de Faro (6-11-1961 a 30-7-1962). Começa a gravar com Rui Pato. EP "Baladas de Coimbra". Professor Escola Industrial e Comercial de Faro (19-10-1962 a 31-7-1963).
1963 - Realiza digressões pela Suiça e Alemanha, onde grava para a televisão, e na Suécia onde actua na Gala dos Reais Clubes Suecos, integrado num grupo de fados e guitarradas, na companhia de Adriano Correia de Oliveira, José Niza, Jorge Godinho, Durval Moreirinhas e da fadista lisboeta Esmeralda Moedo.
Divorcia-se de Maria Amália. Grava o EP Dr. José Afonso em "Baladas de Coimbra". Professor Escola Industrial e Comercial de Faro (7-10-1963 a 29-7-1964)
1964 - Casa com Zélia (4 de janeiro). Grava o EP "Cantares de José Afonso" e o LP "Baladas e Canções". No final do verão embarca para Moçambique, com um contrato de professor.
1965 - Liceu António Enes, em Lourenço Marques (1964/1965) - Leciona Geografia - Nasce, a 8 de agosto, a filha Joana*.
* Joana, nasce em Lourenço Marques. Tinha 15 dias quando Zeca, Zélia, a filha Helena e Joana a 23 de agosto, foram para a Beira onde Zeca iria lecionar.
(Fonte: José Afonso – Um Olhar Fraterno, flªs 174)
1966 - Liceu Pero de Anaia, na Beira (14-9-65 a 30-7-1966). Compõe 'Coro dos Tribunais' e 'Eu Marchava de Dia e de Noite' para a peça de Bertolt Brecht 'A Excepção e a Regra', traduzida por Luiz Francisco Rebelo, encenada por Cardoso dos Santos e que seria representada no Teatro dos Amadores da Beira. É publicado o livro "Cantares de José Afonso" pela Nova Realidade.
1967 - Revogado o contrato e leciona como eventual (18-9-1966 a 29-7-1967). Regressa a Portugal em agosto, com Zélia e dois filhos, Helena e Joana. Fica com o tio-avô Filomeno, o filho mais velho, José Manuel. Em outubro dá aulas no Liceu Nacional de Setúbal - aulas de Organização Política. Internado na Casa de Saúde de Belas durante 20 dias, é exonerado do ensino «por conveniência de serviço». Passa a dar explicações.Começa a cantar com mais assiduidade nas coletividades da Margem Sul.
1968 - Contrato com Arnaldo Trindade Cª Lda. Regime de exclusividade, um mínimo de três discos LP (36 trechos), num prazo de dezoito meses a contar de 1-3-1969, com um cachet de 45 000$00 por cada lote de doze canções. Grava o "Cantares do Andarilho".
1969 - É colocado após requerimento, como professor na Escola das Areias em Setúbal (7-10-1969 a 31-7-1970). Em 1969 funcionava como Ciclo Preparatório) no primeiro grupo numa área que não domina - Ciências da Natureza (segundo depoimentos de alunos foi professor de História e não de Ciências (http://www.aja.pt/o-meu-professor-de-historia-jose-afonso/ ). No ano seguinte é indeferido o requerimento e não volta a dar aulas no ensino público. Grava o single "Menina dos Olhos Tristes" e o LP "Contos Novos, Rumos Velhos" com o músico Rui Pato e a participação de Teresa Paula Brito. Pela primeira vez num disco de José Afonso, aparecem outros instrumentos que não a viola ou a guitarra. É o último álbum com Rui Pato. Nasce o filho Pedro a 2 de setembro. Recebe o prémio da Casa da Imprensa para o melhor disco, distinção que repete em 1970 e 1971.
1970 - Celebra novo contrato com Arnaldo Trindade - gravação no mínimo de dois LP no periodo de dezoito meses (no contrato seguinte o prazo passa para dois anos), por uma quantia fixa, a que acresce 10 contos mensais como consultor musical da empresa: 3 de setembro.
Grava em Londres o LP "Traz Outro Amigo Também". Rui Pato impedido de sair de Portugal pela PIDE é substituído na viola por Carlos Correia "Boris", antigo músico de rock. A Casa de Imprensa atribuiu a José Afonso o Prémio de Honra pela «alta qualidade da sua obra artística como autor e intérprete e pela decisiva influência que exerce em todo o movimento de renovação da música ligeira portuguesa» (21 de março de 1970). Participa no 1º Encontro da "La Chanson Combat Portugaise" - Maison de la Mutualité - Paris (10 de novembro de 1970). É convidado para participar num festival internacional de Música Popular, em Varadero, Cuba. Acometido por um esgotamento nervoso, não canta. No regresso, é detido e passa 24 horas nos calabouços da PIDE (novembro de 1970).
1971 - É detido pela PIDE/DGS em Lourenço Marques quando de visita aos pais e irmãos. É reembarcado para Portugal. Grava Cantigas do Maio em Paris, foi detido no aeroporto antes do embarque. Participa em Valência no II Festival da Canção Ibérica.
1972 - Canta em Orense, Lugo e Santiago na Galiza (Maio de 1972). Zeca canta Grândola pela primeira vez, para estudantes de Santiago de Compostela. Grava em Madrid "Eu Vou Ser Como a Toupeira", no Estúdio Cellada, em Madrid, com a participação de Benedicto, cantor galego, e apoio de Manolo Diaz. É editado o livro "José Afonso" pela editora Paisagem. Participa no VII Festival Internacional do Rio de Janeiro - Setembro, 1972, com a canção "A Morte Saiu À Rua".
1973 - Nova digressão à Galiza, conjuntamente com José Jorge LEtria, Manuel Freire e Francisco Fanhais (Março). Participa ativamente no III Congresso da Oposição Democrática de Aveiro. Preso em Caxias de 30 de abril a 21 de maio. Grava em Paris "Venham Mais Cinco"
1974 - Participa no I Encontro da Canção Portuguesa a 28 de março, com grande aparato policial. Grava em Londres "Coro dos Tribunais". Dá-se o 25 de abril sendo Grândola a senha para o arranque definitivo da operação.
1975 - Participa na campanha de dinamização cultural «Maio-Nordeste» no distrito de Bragança. Participa diretamente nos moviementos populares e no PREC, em colaboração estreita com a LUAR. Visita Angola (atuou em janeiro em Cabinda no Cinema Chiloango, onde estive com ele no palco). Grava em Itália o LP República. Morre o pai a 13 de outubro.
1976 - Viagem à Alemanha onde grava o LP "José Afonso in Hamburg". Apoia a candidatura à presidência de Otelo. Grava o LP "Com as Minhas Tamanquinhas"
1977 - sem referências
1978 - Participa na formação da cooperativa «Era Nova». Vai a Angola a convite do MPLA. Grava "Enquanto à Força".
1979 - Digressão pela Galiza. Grava "Fura Fura". Passa a residir em Azeitão. Atua em Bruxelas no Festival da Contra-Eurovisão.
1980 - Concertos na Alemanha Federal. Apoia de novo Otelo à presidencia.
1981 - Espetáculos no Théatre de la Ville em Paris. Grava "Fados de Coimbra e Outras Canções" (disco de prata).
1982 - Participa no festival «Le Printemps de Bourges» (França)
Contrato com a Sasseti (com data de 1 de março e termo a 1-3-1985). Visita em Abril Moçambique, a convite da FRELIMO. Primeiros sintomas da doença.
1983 - Recusa a Ordem da Liberdade. Espetáculo no Coliseu de Lisboa a 29 de janeiro, a 5 de fevereiro - Caldas da Rainha, 25 de maio - Coliseu do Porto, 26 de maio - Coimbra e 1 de junho - Beja. Grava "Como Se Fora Seu Filho". É reintegrado no ensino oficial, na Escola Preparatória de Azeitão, como professor de História e de Português.
Em 24 de Abril, doze cantores que participavam no Concerto pela Paz e pela Não Intervenção na América Central, enviam-lhe da capital da Nicarágua (Manágua) uma mensagem: “Queremos enviar-te um abraço revolucionário e dizer que te sentimos junto a nós, cantando o homem novo, que como agora em Nicarágua, um dia haverá de nascer em Portugal”. Assinam esta mensagem, entre outros, Chico Buarque, Pete Seeger, Daniel Viglietti, Carlos Mejía Godoy, Amparo Ochoa, Silvio Rodríguez e Isabel Parra.
Zeca Afonso gostava de considerar este pequeno texto de solidariedade como a sua “coroa de glória”.
1984 - Internamento na Clínica Santa Isabel, em Coimbra.
1985 - Apoia a candidatura de Maria de Lurdes Pintasilgo. Grava o seu último álbum "Galinhas do Mato" (neste LP canta em duas canções, que já estavam anteriormente gravadas)
1986 - Compõe algumas canções em casa com a ajuda à viola de Júlio Pereira
1987 - Morre, em Setúbal, a 23 de fevereiro. 24 de fevereiro realiza-se o funeral para o cemitério da Senhora da Piedade, em Setúbal. A urna estava envolvida num pano vermelho, sem qualquer símbolo político.

Biografia resumida - Liceu e Faculdade

Liceu

1940 - 11 anos - a 27 julho faz a admissão ao liceu em Coimbra. No outono muda para Coimbra para a casa da tia Avrilete. 1º ano liceu. Conhece António Portugal e Luiz Goes.
1941 - 12 anos - 2º ano
1942 - 13 anos - 3º ano
1943 - 14 anos - 4º ano - conhece Carlos Couceiro
1944 - 15 anos - 5º ano - chumba. No fim da II Guerra Mundial, José Afonso recebe, finalmente, notícias dos pais.
1945 - 16 anos - 5º ano - chumba
1946 - 17 anos - 5º - conhece António dos Santos e Silva
1947 - 18 anos - 6º. Começa a cantar serenatas como “bicho”.

“As minhas primeiras veleidades de cantor surgiram quando andava no 6º ano do liceu. As noites passava-as em deambulações secretas pela cidade, acompanhado de meia-dúzia de meliantes da minha idade, amantes inconsequentes da noite. Com uma guitarra e uma viola fazíamos a festa. Estávamos ainda longe do hieratismo triunfal das serenatas na Sé Velha diante de multidões atentas e respeitosas. O velho Flávio Rodrigues continuava a ser o «Mestre», venerado por um pequeno discipulado de guitarristas e acompanhadores que com ele se reuniam numa pequena casa do bairro de Celas onde acabou os seus dias minado por uma doença fatal.”(1)

1948 - 19 anos - 7º acaba o liceu. Faz viagens com o Orfeão e com a Tuna Académica.

"No Orfeon (onde foi solista), era segundo tenor: tinha uma voz expressiva, de timbre aveludado, porém de pouca força e altura; por isso, foi um cantor de fados discreto."(2)

Faculdade

1949 - 20 anos - 1 º ano Faculdade de Letras. Curso Ciências Histórico-Filosóficas (Inicio a 20 de novembro). Vai a Angola e Moçambique (de julho a setembro), integrado na comitiva do Orfeão Académico da Universidade de Coimbra.
1950 - 21 anos - 2º ano - Casa com Maria Amália em segredo, por oposição dos pais (11 de novembro)
1951 - 22 anos - 3º ano - Integra uma lista de esquerda para a eleição da direção da Associação Académica de Coimbra.
1952 - 23 anos - Faculdade - chumba por faltas

Fim do Período Escolar

(1) - José Afonso, Autobiografia, Cidade da Beira, 1967
(2) - António dos Santos e Silva in Zeca Afonso ‘Antes do Mito'


Biografia resumida - As primeiras letras

1935/36 - 6 anos - 1ª classe - Luanda


1936/37 - 7 anos - 2ª classe - Aveiro - Licença graciosa do pai, vai no verão a família para Belmonte para casa do tio Filomeno. Aqui ouvem a queda de Bilbau (19 de junho) pelos nacionalistas do Generalíssimo Franco (“Franco manda e a Espanha obedece”)



1937/38 - 8 anos - 3ª classe - Lourenço Marques


1938/39 - 9 anos - 4ª classe - Lourenço Marques - Regresso a Portugal de Zeca e irmão no paquete João Belo em julho. Os pais e a irmã vão em agosto para Timor e eles para Belmonte para casa do tio Filomeno. João fica em Coimbra na casa da tia Avrilete depois de feito o exame de admissão ao Liceu, Zeca fica em Belmonte.


1939/40 - 10 anos - Belmonte - a 27 julho de 1940 faz a admissão ao liceu. No outono muda para Coimbra para a casa da tia Avrilete.


P.S. - Zeca Afonso já tinha a 4ª classe feita em Lourenço Marques, mas voltou a repetir em Belmonte, pois não estava preparado para o exame de admissão ao Liceu. O irmão João que tinha reprovado na 4ª classe por ter faltado ao exame devido a um problema de saúde (operado de urgência a uma apendicite aguda que não correu lá muito bem), teve como companheiro de ano o irmão Zeca embora em salas diferentes.

Regressados ambos a Portugal como referido acima, João faz o exame de admissão ao Liceu, Zeca repete o ano preparando-se para o exame.

A razão disso explica João no seu livro "O Último dos Colonos".

"O ano escolar, em Portugal, não coincidia com o de Moçambique (...) A prova (exame da 4ª classe) decorreu três a quatro meses antes do termo do ano lectivo, de modo a irmos a tempo do exame de admissão ao liceu e da reabertura das aulas em Coimbra."

Numa das salas da Rebelo da Silva, escola primária em Lourenço Marques onde ambos estudavam, eles eram os únicos a fazerem o exame da 4ª classe. Vieram para Portugal no paquete João Belo tendo como destino Belmonte, ou seja, a casa do tio Filomeno.

Retomo agora o depoimento do João.

"Encontrávamos em Belmonte (...). Algum tempo depois, a professora do ensino primário, Senhora D. Ilda Bidarra, faz-me umas sabatinas, com vista às provas de admissão ao liceu. Zeca ficou excluído desse desígnio imediato, talvez porque, amputado dum largo período de preparação, não estivesse em condições de se submeter a exame."

... E assim João segue para Coimbra para casa da tia Avrilete e Zeca fica em Belmonte naquele que iria considerar o pior ano da sua vida.


Biografia resumida - Os primeiros passos

1929 - Nasce em Aveiro (na freguesia da Glória) a 2 de agosto, no piso superior e residencial da «escola infantil» de que a mãe é diretora.

1930 - 1 ano - Aveiro - casa dos avós e tia paternos a residirem perto do edifício da Capitania, à beira de um dos braços da ria. Os pais e o irmão João vão para Angola.

1931 - 2 anos - Aveiro - casa do tio Chico e da tia Jejé (tia materna) moradora no Largo das Cinco Bicas.

1932 - 3 anos - Nasce em Silva Porto (Angola) a irmã Mariazinha (21 de março)

1933 - 4 anos (princípios deste ano vai para Silva Porto no paquete Mouzinho. Zeca tinha cerca de 3 anos e meio)




1934 - 5 anos - Luanda - Angola