quinta-feira, 1 de junho de 2017

Mulheres de Abril - Maria Vitória Vaz Pato

Eu sou natural do Porto, e aí fiz os meus estudos. A minha mãe, que se licenciara em Farmácia em 1928, era uma católica praticante, sem cultura política e, por isso, naturalmente receptiva à propaganda do regime de Salazar.

Data dessa época (anos 50) o início da minha crítica à Igreja, que culminou nos anos 70 por um processo de abandono da prática religiosa seguido, mais tarde, após madura reflexão, de uma rotura profunda com o conteúdo da fé cristã, seus dogmas, fundamentos, assim como posições político-sociais.

(...)

A minha casa passou a ser o local de compilação e armazenamento do “Direito à Informação” (1)

O trabalho durava até de madrugada, na sala, com as persianas e os cortinados fechados, para não se descobrir luz do exterior, e falávamos com discrição. Geralmente ouvíamos baixinho um disco “revolucionário” de 45 rotações, Zeca Afonso era o mais habitual. Estes discos eram habitualmente apreendidos pela PIDE nas discotecas, mas por “conhecimentos especiais” havia sempre um de nós a conseguir que um editor lhe “vendesse/cedesse um disco”. As editoras discográficas mantinham sempre escondido um stock de uns tantos discos que vendiam depois a pessoas de confiança. Rodávamos o disco até à exaustão e cantarolávamos baixinho: “Os vampiros - eles comem tudo, eles comem tudo...”

(1) - O conteúdo dos DI, (...) tinha como objectivo reunir e difundir informações que não apareciam nos jornais por serem cortadas pela censura, dando–se especial atenção às notícias sobre a luta anticolonial. Saíram 18 números de 1963 a 1968.

daqui:

http://www.esquerda.net/artigo/mulheres-de-abril-testemunho-de-maria-vitoria-vaz-pato/48379



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