segunda-feira, 6 de março de 2017

Zeca Afonso, o professor que não usava gravata

TSF

Zeca Afonso, o professor que não usava gravata e estava do lado dos alunos

José Afonso foi colocado como professor provisório na Escola Industrial e Comercial de Faro (agora Escola Tomás Cabreira) em 1958. Depois de um ano em Alcobaça, voltou em 1960 e ali ficou por mais quatro anos a dar aulas de Português e Francês.

Adérito Melro tinha na altura 13 anos. Foi aluno do Zeca em 1963 e lembra-se bem daquele professor que era diferente; que não usava fato cinzento ou azul escuro nem sequer gravata. Essa vinha sempre guardada num bolso, para quando era chamado ao gabinete do diretor.

Nas aulas conversava muito com os alunos. Ouvia os desabafos, as queixas sobre as outras disciplinas, falava sobre bola e sobre outras coisas do dia-a-dia. Adérito lembra-se dos dias de inverno, em que nas aulas Zeca lamentava a sorte dos pescadores. Na altura, com 13 anos, não tinha consciência plena do que estava a ser dito, mas hoje consegue ver nessas conversas o sentimento de injustiça e de desigualdade - não eram os donos das traineiras que preocupavam o Zeca quando não se podia pescar; eram os pescadores, que não tinham como alimentar os filhos.

E depois havia a música. A pretexto do ensino do Francês, Zeca permita aos alunos ouvir na sala os discos de Charles Aznavour, Françoise Hardy ou Gilbert Bécaud, os cantores da moda da altura. (...)

Já em Faro, foi José Pontes que aceitou bater à máquina a tese de final de curso do Zeca: "Implicações Substancialistas da Filosofia Sartriana". O Pontes nunca tinha ouvido falar de Sartre, mas dedicou-se ao trabalho. Durante duas semanas, uma hora por dia, depois das 17h, Zeca Afonso ia até à Caixa Agrícola, onde José Pontes estava empregado. Ele ditava; o Pontes escrevia.

Mais de 50 anos depois, desafiado pelo vizinho e amigo Luís Andrade, José Pontes foi à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. E reencontrou a tese, datilografada por ele.

"Vemos, ouvimos e lemos Não podemos ignorar".

Ver, ouvir e ler mais, aqui:

http://www.tsf.pt/sociedade/interior/zeca-afonso-o-professor-que-nao-usava-gravata-e-estava-do-lado-dos-alunos-5685205.html

Fotos de Luís Andrade/DR: José Pontes com a tese que datilografou.

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