quinta-feira, 30 de março de 2017

terça-feira, 28 de março de 2017

Caxias - 1973

«A última vez que fui preso, tinha ido esperar o meu pai ao aeroporto. Vim para casa, dormi mal e, no dia seguinte, bateram à porta. Estávamos em Abril de 1973 (30 de Abril). Foi o meu filho Zé Manel a abrir a porta. O inspector apresentou-lhe o "crachat" da polícia, e ele voltou displicentemente para a sala a dizer: "Ó pai, é a prestimosa". O tipo entrou, fizeram a vasculhação e levaram-me para Caxias.

Fiquei lá uns tantos dias (...) A partir do sexto dia, deram-me papel e comecei a escrever várias coisas (Zeca também tinha pedido um gravador que lhe foi negado).

Do ponto de vista físico, não me chatearam nada. Num interrogatório, fizeram alusão de que tinham possibilidades de saber por outros meios aquilo que eu não queria dizer, mas não passaram disso.»

A 19 de Maio, foi libertado mediante a caução de 10 mil escudos, para «aguardar em liberdade a conclusão do processo»

in "Livra-te do Medo" de José A. Salvador

Imagens. relatórios da PIDE e os pedidos de Zeca de livros e gravador.

segunda-feira, 27 de março de 2017

Dia Mundial do Teatro - Teresa Torga

José Afonso fez dela uma canção. A história de uma mulher desesperada e triste que se despe na via pública em 1975. Uma mulher de 41 anos, divorciada, sucessivamente actriz de revista, emigrante no Brasil, cantora de fado e no intervalo de tratamento no Júlio de Matos, "mudava discos no pick-up" de uma boite de Benfica.

Usava o nome de Teresa Torga "porque há um escritor que se chama assim" e ela gostava muito de ler, conta uma vizinha.

Zeca Afonso leu a notícia no jornal e fez a canção que todos nós conhecemos.




Fontes:

http://clone45.blogs.sapo.pt/113363.html

http://desenvolturasedesacatos.blogspot.pt/2015/05/teresa-torga-liberdade-mas-nao-para.html

http://diasquevoam.blogspot.pt/2010/12/teresa-torga.html


Podemos agora ouvir dois temas desta atriz que Zeca imortalizou na sua canção Teresa Torga, canção que se tornou um clássico da luta pelos direitos da mulher em Portugal.




sábado, 25 de março de 2017

Cadói

"Em 1984, fiz um disco chamado “Cadói” e fui a Londres buscar uma viola ultra revolucionária que tinha um aspeto de metralhadora. Os meus amigos fizeram um ar crítico e assustado. Já o Zeca achou fascinante o design da viola. São pequenos exemplos para mostrar que o Zeca precisava da juventude, precisava de coisas novas. Para ele era importante conviver com o que acontecia."


Zeca no lançamento do disco Cádoi de Júlio Pereira, no Conservatório Nacional - Lisboa 1984

sexta-feira, 24 de março de 2017

Canção

Poema de Luís de Camões (modificado), musicado por Zeca Afonso e que nunca foi gravado.


terça-feira, 21 de março de 2017

4 de outubro de 1971

Zeca ia embarcar para Paris onde iria gravar nos estúdios do Castelo de Hérouville, onde entre outros ali gravaram os Pink Floyd, Elton John, David Bowie, Marvin Gaye, os Bee Gees e os bem portugueses Sérgio Godinho e os Petrus Castrus, o álbum "Cantigas do Maio". Foi interpelado no aeroporto pela PIDE/DGS, que lavrou um auto onde refere que «foi feita uma busca à bagagem do arguido (...) e finda ela, foi apreendido o seguinte livro com o título "TERRORISME ET COMMUNISME"; DUAS folhas de papel contendo a letra de uma canção, com o título "NA RUA ANTÓNIO MARIA", UMA folha com a letra de uma canção intitulada "Morte Clériga"; e UMA folha contendo apontamentos manuscritos que começam por "VEJAM BEM".»

Zeca foi preso e libertado dois dias depois.

«Fui interrogado pelo pide Inácio Afonso, um pide que se gabava de vários feitos ao dizer para os presos "com estas mãos matei 40". Interrogaram-me durante o dia sobre a distribuição do manual de guerrilha urbana. Depois libertaram-me. Imagina o estado de espírito com que finalmente consegui chegar a Paris. Ia muito afectado e foi essa condições que gravei o disco».

in "Livra-te do Medo" de José A. Salvador.

O disco foi distinguido em 1978, como o melhor álbum de sempre da música popular portuguesa.

sexta-feira, 17 de março de 2017

8 de Agosto de 1968

José da Conceição, que tinha convidado Zeca para atuar na Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense em 17 de maio de 1964, por razões de perseguição da PIDE, foi para Viana do Castelo. Convidou Zeca para atuar no Clube Fluvial Vianenense e foi a 6 de agosto desse ano que Zeca conheceu Manuel Freire que também tinha sido convidado. Rui Pato​ desta vez acompanhou Zeca Afonso (o que não tinha acontecido em Grândola).

A PSP como pidesca que também era, enviou um relatório à PIDE sobre a atuação, «que encerrava um fundo picante para o lado subversivo...» e sobre os cerca de 200 indivíduos «desafectos à actual situação política. A afluência destes indivíduos desafectos certamente deve-se ao facto dos fadistas (sic) em referência, serem já conhecidos nesta região»

Como nada conheciam sobre as letras dos temas que Manuel Freire e Zeca cantavam fizeram esta troca das letras nos temas do Zeca «Catarina do Alentejo que não te viu nascer mas há-de vir o dia que hás-de viver; Ó cavador do Alentejo que há muito tempo não te vi cantar"».

Reparar no traço a vermelho que assinala no texto o nome de Rui Pato e em baixo acrescentam no meio o "de Melo".

quinta-feira, 16 de março de 2017

quarta-feira, 15 de março de 2017

VII Festival Internacional da Canção - Rio de Janeiro

José Afonso

«Levei "A morte saiu à rua" ao Maracanãzinho, procurando afirmar a mensagem política contida na canção. Foi um trabalho completamente inglório. Era o ambiente mais alienatório que tu podes conceber. O que vi nos bastidores foram coisas perfeitamente inconfessáveis. Foi o mais completo gangsterismo. Os prémios já estavam previamente estabelecidos. O americano tinha que ganhar, embora o americano fosse tão ingénuo que nem deu por isso.»

in "Livra-te do Medo" de José A. Salvador

O que eu não sabia é que para além do Zeca esteve outro cantor português, Paulo de Carvalho (convidado pelo "Diário de Lisboa") com o "Maria, Vida Fria" de José Niza e Pedro Osório.

FASE INTERNACIONAL

Portugal: A MORTE SAIU À RUA (José Afonso) José Afonso
Portugal: MARIA, VIDA FRIA (José Niza/Pedro Osório) Paulo de Carvalho

Nem o Zeca nem o Paulo passaram à final.

Em imagens: O cartaz do Festival, o Maracanãzinho, o vencedor do certame (o americano), capa do disco do Paulo de Carvalho com o tema com que concorreu e Zeca com José Ribamar e Jackson do Pandeiro


O evento no Diário de Lisboa

I Encontro da Canção Portuguesa - Relatórios

O considerando do censor Moreira das Neves chamando a atenção que o espetáculo iria "oferecer" aborrecimentos pois as canções eram de carácter contestatário ou subversivo, e os relatórios dos PIDES presentes no evento.

De salientar a observação do fiscal que relativamente a Zeca disse:

"Quando José Afonso, que deve ser o mais "querido" daquele público especial de guedelhudos contestatários..."

Guedelhudos contestatários. Quem não fosse guedelhudo não era contestatário. Enfim! ...

Como todos sabemos o espetáculo esteve em vias de não se efetuar devido à entrega tardia das letras que podiam ser cantadas nesse concerto. Pelos vistos o fiscal que levou as letras não era de se apressar para estas coisas. Mas o espetáculo realizou-se e foi marcante na vida de todos os que a ele assistiram, não só pelo policiamento que houve fora do Coliseu, mas pelo ambiente que dentro se viveu e, como diz no recorte do jornal incluso:

"«Grândola, Vila Morena», foi cantada de pé, por todo o público. Cerca de cinco mil pessoas (...) fizeram estremecer o velho edifício das Portas de Santo Antão"

I Encontro da Canção Portuguesa ‒ Lisboa, 29 de Março de 1974

Zeca e Adriano não estavam autorizados a participar neste "Encontro" o que levou a "Casa da Imprensa", mentora deste espetáculo, a escrever, através do Ofício nº 181/74, ao Subsecretário de Estado da Informação e Turismo, fazendo o seguinte reparo: «... no momento da entrega da entrega das letras das composições (para análise da Censura), foi a direcção da Casa da Imprensa surpreendida com a informação de que os artistas José Afonso e Adriano Correia de Oliveira não poderiam cantar no espectáculo. (...) Permitimo-nos, pois, solicitar a VExa. os seus bons ofícios no sentido de o embargo em relação aos artistas (...) seja desta vez levantado, ainda que a título excepcional, com a certeza antecipada que a sua presença no palco do Coliseu terá um carácter estritamente artístico.»

Sabemos que foi ali que Zeca cantou a Grândola que viria a ser, a pouco menos de um mês depois, a 2ª senha que deu origem à saída dos quartéis da tropa, rumo à Revolução de Abril.

Zeca só cantou nesse espectáculo duas canções, a "Grândola" e "Milho Verde".

Em pesquisa, sobre as letras enviadas e não censuradas, haviam outras que Zeca podia ter cantado. Talvez não o tenha feito porque a noite já ia longa ou por outro motivo que me escapa.

Aqui ficam todas as letras de Zeca, que a Casa da Imprensa enviou à Comissão de Exame para serem aprovadas ou não (as aprovadas têm um "A" e as que não podiam ser cantadas um "Reprovado").

A letra de uma das canções era totalmente desconhecida, "O Lago", e foi pena que Zeca não a tenha cantado.



Num tema cantado por Manuel Freire, a última quadra foi cortada o que não impediu Manuel Freire na atuação, de a trautear.


42 anos depois, recordemos o som deste evento que ajudou a mudar o curso da nossa história.

Realização de António Macedo e Viriato Teles.
Produção de António Santos.
Programa da RTP Play em 30Mar2014

I Encontro da Canção Portuguesa ‒ Lisboa, 29 de Março de 1974 ‒ Coliseu dos Recreios