quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Zeca Afonso

Eras igual a nós
Não fora o teu canto,
Mas, ao som da tua voz,
Ruflavam asas...
De amor e pranto.

Ecos, memórias
De lá da infância.
Mundos, quimeras
Dalém distância.
Raiva, ternura...
Flores que brotavam,
Como por graça,
Dum chão de mágoas
Intemporal.
Sede sem taça
De água lustral.

E o peito solto
Como um vela.
As mãos vazias.
O braço dado.
Pés de andarilho
Sem dono ou trela.

Quebrado o encanto,
Ficou a vida.
Mais velha e chã.

Falta o teu canto,
Zeca:
Hino e alerta,
Flor da Manhã!

in "Poemas de fim de dia" inserido no livro "Zeca Afonso - antes do mito" de António dos Santos e Silva

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