segunda-feira, 27 de junho de 2016

O Andarilho...

Desço a escadaria. Tinha em vista comprar uma coisa para oferecer. A distância do local pretendido não era muita e iria a pé. Chegado ao local verifico que o procurava não havia... Mas sabia que havia uma outra coisa que queria encontrar... um mural com a cara do Zeca e algo mais que não me lembrava o que era. Sabia da existência mas não sabia ao certo onde... e comecei a andar ao acaso.

Vou atravessando a cidade. Vejo o Mercado Municipal e pensava ser ali. Procuro nos muros recentemente caiados e nem vestígios de Zeca.

Continuo. Rua após rua, vão ficando para trás. Vejo a Câmara e nada. Mais quilómetros percorridos, o calor aperta e começo a ficar cansado e desanimado. Chego à zona ribeirinha. Atravessara a cidade de um extremo ao outro. Olho em redor e noto as torres de iluminação de um estádio de futebol. Vou até lá, seria a última tentativa.

Perto de um jardim, reformados vão jogando à malha. Aproximo para os ver. Olho para os muros circundantes... E ali estava o "Zeca".

Ao lado do rosto do Zeca, a letra de "Grândola, Vila Morena", com a particularidade de estar lá a primeira versão enviada a José da Conceição, que a leu publicamente na «Música Velha» na noite de 24 de Maio de 1964, acrescentada com a quadra que substituiu uma das quadras originais.

Deambulo por ali e reparo na placa toponímica encimada num prédio já um pouco distante do local do mural, Avenida Zeca Afonso.

"À sombra não me quito
À sombra não me calo
Antes andar a pé
do que a cavalo" (1)

Fui andarilho na cidade de Portimão, à procura do Zeca. "Tinha-o" encontrado. Ainda tinha muito que andar até onde pernoitava, mas tinha valido a pena.

(1) - Poesia do Zeca - À sombra não que quito - 1959

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Edições 1953

Em 1952 a empresa portuense de discos Rádio Triunfo, Lda., deixa-se impressionar pelo sucesso de uma formação musical juvenil conimbricense que estava a dar que falar nas serenatas monumentais da Queima das Fitas, nos saraus académicos e aos microfones do Emissor Regional de Coimbra: o grupo de Pinho Brojo, conhecido inter amicus por Tertúlia do Calhabé.

A formação constituiu-se em 1951 e manteve sólida agenda artística até 1954, data em que o guitarrista solista, Pinho Brojo, abandonou o grupo para se dedicar à preparação do doutoramento em Farmácia.

Foi este quarteto instrumental regularmente constituído pelos seguintes elementos:

· António Pinho de Brojo (1927-1999), guitarrista titular, recém-licenciado em Farmácia pela UP, com anteriores colaborações nos grupos de José Amaral, Carvalho Homem e João Bagão;
· António Jorge Moreira Portugal (1931-1994), segundo guitarra, estudante da FD/UC e distinto fotógrafo de arte;
· Aurélio Afonso dos Reis (1919-2014), médico militar, antigo estudante da FM/UC, colaborador da maioria das formações musicais da década de 1940, executante de violão de cordas de aço;
· Mário Henriques de Castro (1918-1999), agrónomo, diplomado pela Escola Agrária de Coimbra, executante de violão de cordas de aço.

Faziam parte da formação

· Fernando José Monteiro Rolim (n. 1931), primeiro tenor, membro do Orfeon Académico e da TAUC, estudante da FM/UC;
· José Manuel Afonso Cerqueira dos Santos (1929-1987), segundo tenor, membro do Orfeon Académico, estudante da FL/UC;
· Luís Fernando de Sousa Pires de Goes (1933-2012), barítono, sócio do Orfeon Académico e do TEUC, estudante da FM/UC.

(colaboraram em diversos momentos, Augusto Camacho Vieira (FM/UC), Alexandre Herculano (FD/UC), Florêncio Neto de Carvalho (FC/UC) e, na fase final, Fernando Machado Soares (FD/UC))

António Brojo, Fernando Rolim, José Afonso e Luís Goes gravaram cada um 4 temas (2 por single de 78rpm) para a Rádio Triunfo.

Pela primeira vez estão reunidas todos essas gravações. Agradeço ao Jorge Serra as imagens dos discos originais e ao "Fraty" todos os temas musicais.

(a "antiguidade" deveria ser considerada pelos masters, os números mais baixos deveriam ser os mais antigos. Só que quando editaram os discos, não respeitaram isso e as etiquetas respetivas têm masters diferentes nos originais. Sendo assim vou considerar as etiquetas e não os masters)

José Afonso
Disco Melodia 15.090
FPD 223 – CONTOS VELHINHOS
FPD 224 – INCERTEZA



Fernando Rolim
Disco Melodia 15.091
FPD 227 – MARIA SE FORES AO BAILE
FPD 228 – RECORDAÇÕES


Luis Goes
Disco Melodia 15.092
FPD 215 – DOBADOIRA
FPD 217 – MINHA BARCA


António Brojo
Disco Melodia 15.093
FPD 221 – VARIAÇÕES EM RÉ MENOR
FPD 230 – ESTUDO EM LÁ MAIOR


Fernando Rolim
Disco Melodia 15.094
FPD 225 – VENTO NÃO BATAS À PORTA
FPD 226 – NÃO OLHES PARA OS MEUS OLHOS


António Brojo
Disco Melodia 15.095
FPD 222 – VARIAÇÕES EM LÁ MENOR
FPD 229 – VARIAÇÕES SOBRE O FADO EM DÓ


Luis Goes
Disco Melodia 15.096
FPD 216 – AVÉ MARIA=Rezas à Noite
FPD 218 – SONETO


José Afonso
Disco Melodia 15.097
FPD 219 – FADO DAS ÁGUIAS
FPD 220 – O SOL ANDA LÁ NO CÉU


... E está assim feita a história destas gravações de 1952 e editadas em 1953, de José Afonso e os seus companheiros de canto e guitarradas.

Fonte: http://guitarradecoimbra4.blogspot.pt/search?q=Minha+barca