quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Poesia do Zeca - Mulher

Mulher feita de pernas
braços
perfumes passageiros
Que rompe a madrugada decisiva
Que agoniza
em cada dia que passa

Colónias de símios
Seguem-na de perto
coçando o pêlo
dardejando cobiças

Mulher
à beira
duma largada de pombos
Que fazer do teu braço
do teu crime
da tua mão justiceira?

Rasgas um véu de carne
à tua frente
para poderes ver quem te oprime
te insulta
te incendeia

Não sabes
que rumo terá
a tua marcha migratória
pelas ruas
por onde outrora se viam
sinistros vultos de capuz

Timoneiros da morte
Cadáveres conduzindo sírios
em filas
de gargantas acesas
como piras

Corta
Fulmina
Com a tua clara música
a noite da suástica
Mulher viva

Paris, 29 de abril de 1980 e Azeitão de 1980

Foto: carga policial na década de 40 no Barreiro.

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