quinta-feira, 9 de julho de 2015

III Congresso da Oposição Democrática em Aveiro - Abril de 1973

Zeca atuou, juntamente com José Jorge Letria, no III Congresso da Oposição Democrática em Aveiro onde houve carga policial contra os participantes nesse Congresso.

José Jorge Letria

"Em Abril de 1973, eu e José Afonso cantámos no dia de abertura do Congresso da Oposição Democrática em Aveiro. Estavam lá milhares de pessoas que cantaram connosco. O que faltava em condições técnicas sobrava em calor humano e em fraternidade. No dia seguinte, abateu-se uma feroz repressão sobre os participantes quando iam em romagem até à campa de um resistente chamado Mário Sacramento, médico e escritor falecido em 1969.

Muitas dessas pessoas iam a cantar canções que nós interpretámos na véspera. Depois vieram os polícias, os cães-polícias e fizeram dezenas de feridos e de detenções. E nós tínhamos orgulho pelo facto de podermos viver momentos como esses, sentindo já no ar o aroma de um Abril que estava quase a chegar."

in Zeca Afonso e a Malta das Cantigas

MEMÓRIAS DO ZECA

Natércia Pedroso

(...) lembro-me principalmente, no dia da manifestação quando da realização do III Congresso da Oposição Democrática, em Abril de 1973, logo que a policia de choque carregou com a habitual brutalidade, por acaso eu ia nas primeiras filas de gente e tropecei, durante instantes que me pareceram uma eternidade fiquei estatelada no meio do chão sem me conseguir levantar e a sentir os pés, sapatos e botas de toda a gente a passarem por cima de mim,e de repente alguém me agarrou e me levantou em braços e pôs-me de pé! era o Zeca que viu o que se passava, voltou atrás e me ajudou dizendo: corre moça corre! claro que foi o que fiz, mas mais uns metros corridos fui apanhada e levei a maior carga de pancada que alguma vez apanhei,recordo olhar olhos nos olhos para o brutamontes do policia e pensar "se este gajo me volta a bater vou cair de novo fico aqui", senti-me como uma raposa a fugir dos caçadores, lá consegui correr mais e refugiei-me num café que já estava cheio de manifestantes ou feridos ou em estado de choque. Pouco depois, com os ânimos já um pouco mais calmos lá nos dirigimos para o teatro onde se realizava o Congresso.

Nunca cheguei a agradecer convenientemente ao Zeca, mas nunca esqueci nem nunca esquecerei o seu gesto. Era um grande poeta, um grande trovador, um artista no verdadeiro sentido da palavra, um grande homem, simples e humilde. Por tudo isso, Obrigada Zeca!

Daqui:

http://istonaoestaaqui.blogspot.pt/2012_02_01_archive.html


Vídeo desse congresso e a carga policial (música de Zeca Afonso).

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